São Paulo, segunda-feira, 18 de abril de 1994 |
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Leão na cabeça
JOSIAS DE SOUZA BRASÍLIA – "Está vindo de onde?" David MacKenzie é diretor de vendas da divisão de aviação da Bombardier, companhia do Canadá. Viaja vez por outra para o Brasil, sempre a negócios. A pergunta do funcionário da alfândega canadense aguçou-lhe o senso de humor: "Venho de um safári no Brasil". O burocrata da aduana levou-o a sério. Olhos de espanto, voz cava, exigiu detalhes: "Matou muitos animais?" MacKenzie deu asas à brincadeira: "Dois leões". O sujeito arrematou: "Que país selvagem!!!"A desinformação sobre o Brasil no exterior é de amargar. A história de MacKenzie, contada entre risos, num restaurante elegante de Toronto, veio à tona depois de um relato do que havia se passado comigo, dias antes, em Seattle, interior dos EUA. Uma funcionária da Boeing, simulando interesse turístico, achou de interrogar-me. "Qual a extensão territorial do seu país? O Brasil é do tamanho do Texas?" Tive riso instantâneo, sonoro. Em Nova York, enquanto aguardava sozinho o início de "My Fair Lady", um americano puxou conversa. Passada a introdução, arriscou: "Tenho vontade de visitar o Rio. O Carnaval, as praias... O problema é a violência". É bem verdade que o Rio do gaúcho Brizola não merece defesa. Mas, naquele instante, vesti verde-amarelo. Fronte alçada, disse ao gringo que encontraria no Rio tanta violência quanto em Nova York. O início da peça encurtou nosso papo. Após dez dias fora, meus sapatos pousaram em solo brasileiro com a desagradável sensação de estarem pisando uma Zâmbia. Isso mesmo, um pardieiro qualquer do quarto, do quinto mundo. Nos últimos anos, costumo trazer do exterior a impressão de que, para o resto do universo, somos quase tão relevantes quanto a brilhantina no cotidiano de Espiridião Amim. Insisto: os brasileiros estão para o mundo como o gumex está para os carecas. No final de semana, corri os olhos pelos jornais, os atuais e os atrasados. Fui apresentado ao novo escândalo da praça. Se vier nos próximos dias ao Brasil, MacKenzie poderá fazer o seu safári. Os bichos estão, afinal, à solta. A propósito o leão é número 16. Pode ser uma boa pedida. Texto Anterior: Betinho de Calcutá Próximo Texto: UMA PIADA; UMA QUESTÃO DE DECÊNCIA; PRA FRENTE, BRASIL; OS SONHOS DE ACM Índice |
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