São Paulo, quarta-feira, 20 de abril de 1994
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Ben Kingsley pode atuar em "Tieta"

JOSÉ GERALDO COUTO
DA REPORTAGEM LOCAL

O produtor inglês Donald Ranvaud, um dos mais importantes da atualidade (leia texto ao lado), passou a última semana escondido num hotel do Rio, discutindo com o diretor Cacá Diegues o próximo filme deste, "Tieta".
Com Sonia Braga no papel-título, o filme, baseado no romance de Jorge Amado, deve ser rodado na Bahia a partir da primeira semana de outubro.
Vai custar US$ 4 milhões, boa parte dos quais deverá ser bancada pela distribuidora americana UIP, de acordo com o produtor brasileiro do filme, Bruno Stropiana.
Ranvaud parte hoje para Cingapura, onde será jurado de um festival internacional. Nesta entrevista exclusiva, ele falou à Folha sobre "Tieta" e outros projetos brasileiros em que está envolvido.

Folha - Quais são as novidades no projeto de "Tieta"?
Donald Ranvaud - A mais importante é que estamos tentando trazer Ben Kingsley (protagonista de "Gandhi" e Itzhak Stern em "A Lista de Schindler") para trabalhar no filme.
Ele já fez um filme aqui, "O Quinto Macaco" (Pascali's Island), fala um pouco de português e gostou muito do país, embora o filme tenha sido um fracasso. E seu agente é o mesmo de Sonia Braga. Estou otimista.
Em "Tieta" ele poderá fazer o comandante Dário, transformado, no caso, num estrangeiro que veio há muito tempo para o Brasil e aqui ficou, como tantos outros.
Folha - Noticiou-se que Valeria Golino estaria no elenco.
Ranvaud - Ela é minha amiga e chegamos a pensar nela, de fato, mas concluímos que não há um papel indicado para ela no filme.
Folha - Você acha que "Tieta" pode fazer sucesso no exterior, aproveitando a brecha de "Como Água para Chocolate"?
Ranvaud - Sim. Cheguei a brincar com Cacá Diegues que o filme deveria ter chocolate no título para fazer sucesso nos EUA.
Folha - Que mudanças foram feitas com relação ao livro?
Ranvaud - Estamos tentando concentrar um pouco a dramatização. Todos os filmes de Cacá têm uma estrutura dramática bastante forte. E o trabalho de Jorge Amado é muito coral, tem inúmeros personagens, é um amplo painel.
O grande desafio, num filme de duas horas, é reduzir o número de personagens sem perder o carinho e a humanidade de Jorge Amado.
Folha - Você chegou a ver a telenovela "Tieta"?
Ranvaud - Um capítulo só. Gostei bastante da Betty Faria, mas é muito diferente do que vamos fazer. Uma diferença importante é que trouxemos a história para o período Collor.
Acho que isso facilita a comunicação com o público de outros países, porque essa coisa de corrupção política está em toda parte. E nos EUA a idéia do impeachment também é muito familiar, pela própria experiência deles.
Folha - Você não teme que o filme caia no exotismo?
Ranvaud - Com Cacá e João Ubaldo (co-roteirista), isso nunca vai ocorrer. Mas é claro que o filme vai se basear muito nas especificidades culturais da Bahia. E será falado em português.
A música vai ser muito importante. Ainda não sabemos quem fará a trilha, mas certamente haverá muita música baiana. Não queremos fazer uma salada musical só para resolver problemas de co-produção.
Folha - E "O Testamento da Rainha Louca", filme de Neville d'Almeida com roteiro de Glauber Rocha? Avançou o projeto?
Ranvaud - Neville e eu concluímos que é preciso trabalhar mais sobre o roteiro de Glauber. É um roteiro que, se Glauber tivesse podido filmá-lo, daria certamente um filme maravilhoso. Sem Glauber, é difícil extrair dele um filme com possibilidades comerciais.
O mais provável agora é que chamemos outro roteirista para fazer um roteiro quase totalmente novo, apenas inspirado pelo roteiro de Glauber.
Esse é um meio também de aliviar a excessiva pressão sobre Neville para que faça um filme no estilo de Glauber.
Folha - Além desses dois, você está envolvido com algum outro filme brasileiro?
Ranvaud - Tenho a idéia de participar de cinco projetos de filmes brasileiros, a médio prazo.
É um pouco a idéia da Casa de Imagens, que cineastas paulistas tentaram criar há uns sete anos: aproveitar a estrutura montada para um filme em outros filmes, barateando a produção.
Um desses cinco filmes é o próximo de Carlos Reichenbach, "As Mulheres e as Garças".
Folha - Por falar nisso, quais são as perspectivas internacionais de "Alma Corsária"?
Ranvaud - É um filme muito original e autoral, então estamos tentando colocá-lo em algum festival importante da Europa para que ele chame a atenção desse mercado de cinema independente.
Folha - Com esses projetos todos, você praticamente está trocando a China pelo Brasil?
Ranvaud - Eu continuo trabalhando simultaneamente em vários países. Em junho devemos começar em Porto Rico a produção de uma comédia com Cheech Marin (ator da dupla Cheech & Chong, de muito sucesso nos EUA), chamada "The Angel of Oxnard".
Na China, depois de "Adeus Minha Concubina", dificilmente eu conseguiria participar de um filme com o mesmo impacto.
E minha ligação com o Brasil sempre foi muito forte. Eu já disse que fui fazer cinema na China porque não conseguia fazer no Brasil.
Agora estou tentando novamente. O impeachment de Collor melhorou a imagem do Brasil no exterior, ao mostrar um país que consegue fazer as coisas democraticamente e sem convulsões.
O problema é que, para conseguir levantar dinheiro no exterior para filmes brasileiros, é preciso que haja pelo menos 50% do orçamento conseguido aqui dentro. Outra coisa: é caro filmar aqui. É possível fazer um filme mais barato em Los Angeles que no Brasil.

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