São Paulo, quarta-feira, 20 de abril de 1994
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Até tu, PT?

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO – As eleições de 94 vão mesmo se transformar na besta do Apocalipse para os partidos políticos brasileiros. Não que se perca grande coisa, mas, enfim, é tudo de que o país dispõe na matéria.
Até o PT, o único grupo que realmente podia ser chamado de partido, como reconhecem até seus mais encarniçados adversários, está indo pelo ralo. A aliança com o PSDB, que a maioria do partido no Ceará aprovou, ainda que por escassa margem, é a prova que faltava.
Nada contra, ressalve-se, que algum partido queira ganhar eleições. Nada contra, também, que resolva aliar-se a quem quer que seja para atingir o objetivo. O problema começa quando se tenta dourar a pílula da aliança, como o PSDB está fazendo em relação à coligação com o PFL e o PT será obrigado a fazer no caso do Ceará e em outros Estados em que busca coligações parecidas.
O candidato do PSDB no Ceará chama-se Tasso Jereissati, que vem a ser, justamente, o presidente nacional do partido. Logo, Tasso é símbolo e emblema do PSDB. Se o PT acha que Tasso serve para governar o Ceará, perde o direito de achar que o PSDB, coligado com quem quer que seja, não serve para governar o Brasil.
A aliança petista-tucana no Ceará não se deve aos olhos verdes de Tasso ou a um esquerdismo recém-descoberto pelo PT. Nada disso. Trata-se simplesmente do seguinte: 1) o PT não tem candidato viável ao governo do Ceará. Tasso parece ser uma candidatura viável. 2) Apoiando Tasso, o PT pode conseguir uns votinhos para o seu candidato presidencial no Estado.
A alegação dos íntimos de Lula é a de que as coligações nos Estados têm objetivos pós-eleitorais. Ou seja, se Lula se eleger presidente e houver um punhado de governadores para cujas eleições colaborou, cresce a taxa de governabilidade.
Pode até ser, mas convenhamos que é um argumento fraquinho ante a realidade de alianças que são cada vez mais esdrúxulas.
PS - A partir de hoje, estarei na África do Sul, cobrindo as eleições. Retorno a este espaço em duas semanas, se sobreviver. Favor não torcer contra.

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