São Paulo, quinta-feira, 21 de abril de 1994
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Guerra do bicho

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

É uma guerra civil do bicho. De um lado, o líder Leonel Brizola que aparece no TJ Brasil ameaçando: "Se tivesse poder de demiti-lo, eu o demitiria." Falava do procurador Antônio Carlos Biscaia, que sabe bem que os brizolistas, ainda que não tenham poder, estão tentando de tudo: "O meu afastamento vai significar a vitória do crime organizado no Rio."
A radicalização continuou ontem, em várias frentes. Uma delas é a deputada sem acordo, Regina Gordilho, que hoje está no Prona, mas que é historicamente uma brizolista. Ela surgiu no Jornal Bandeirantes e no Jornal Nacional para declarar que é o procurador Antônio Carlos Biscaia quem está ligado ao jogo do bicho. Ela jurou ter visto o nome dele na relação do chefão Castor de Andrade.
Outra frente é aquela aberta entre os procuradores de Biscaia e os coronéis do governador Nilo Batista. A mudança na cúpula da Polícia Militar, ordenada pelo governador, fazendo entrar nomes listados na caixinha de Castor, levou o procurador a tirar de um quartel da PM todos os documentos que comprovam o escândalo. Biscaia não consegue mais confiar nos próprios policiais cariocas.
Como mostraram quase todos os telejornais, com um alerta contra a censura, essa retirada dos documentos não foi gravada porque a Polícia Militar proibiu. Para não dizer que ninguém acompanhou o fato –talvez o mais importante de ontem por evidenciar o conflito entre dois braços do Estado–, a televisão, como na Record, mostrou manifestantes pedindo transparência do lado de fora.
Mas a maior frente na guerra do bicho é mesmo aquela iniciada ontem, no que foi a primeira manchete do Jornal Nacional: "O governador do Rio é denunciado no escândalo do bicho. O procurador eleitoral quer a cassação dele e de mais cinco deputados." É a ação que radicaliza de uma vez por todas o conflito, que promete uma violência crescente e talvez até alguns tiros, daqui por diante.
Campanha ilegalista
Enquanto brizolistas e procuradores entram em guerra no Rio de Janeiro, em São Paulo os apontadores do bicho fazem passeata. Foram trezentos, segundo o Jornal Bandeirantes, levados talvez por Hebe Camargo, que anteontem à noite saiu em defesa da legalização, em seu programa. Querem todos, não apenas o bicho legal, mas uma espécie de anistia. Anistia ampla ao gangsterismo.

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