São Paulo, quinta-feira, 21 de abril de 1994
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Abecip critica uso da URV

GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A poupança em URV (Unidade Real de Valor), que está sendo em estudos pelo governo, perderá em rentabilidade e provocará fuga dos aplicadores em direção a outros investimentos ou ao consumo.
Esta é a opinião dos bancos que operam com poupança, representados pela Abecip (Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança).
Para o presidente da Abecip, João Batista Gatti, a poupança em URV só terá desvantagens em relação ao atual sistema.
Hoje, a caderneta está indexada à TR (Taxa Referencial de Juros), que segue a variação média dos CDBs negociados pelos bancos.
Ou seja, a TR não é um índice de preços, e sim uma referência dos juros praticados no mercado financeiro, hoje muito elevados. A poupança em URV deixaria de incorporar essa elevação dos juros.
Segundo a Abecip, provocaria queda na rentabilidade por causa disso. Gatti defendeu ontem que, mesmo após a criação do real, as cadernetas continuem indexadas à TR. A taxa, mesmo com índices menores depois da eventual estabilização da inflação, manteria o rendimento da poupança equiparado com as demais aplicações financeiras.
Mesmo entre a equipe econômica há críticas à proposta de uma caderneta em URV e por isso tem poucas chances de ser adotada. As primeiras aplicações em URV deverão ser os CDBs, RDBs e letras de câmbio.
A fuga para o consumo do dinheiro aplicado hoje nas cadernetas de poupança traria riscos para o plano econômico do governo. Hoje existem cerca de US$ 28 bilhões depositados na poupança, segundo cálculo da Abecip.
Se 10% desse total fossem retirados das cadernetas, por exemplo, seria o suficiente para duplicar o volume de dinheiro atualmente em circulação na economia, o que teria efeitos inflacionários.
Segundo Gatti, no Plano Cruzado (1986) a queda brusca da inflação, aliada aos juros baixos da época, fizeram com que 20% dos recursos da poupança fossem direcionados ao consumo, pressionando os preços.
Gatti ressalvou que não acredita que o fenômeno se repita na mesma proporção quando for criado o real, se o governo mantiver a poupança corrigida pela TR e os juros em alta.

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