São Paulo, quinta-feira, 21 de abril de 1994
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Atrito com Ike Turneracende o fogo de Tina

EDSON FRANCO
DAS REGIONAIS

"Tina - What's Love Got to Do with It" –que agora chega às locadoras– é um filme feito com raiva. Baseado na autobiografia "I, Tina", o trabalho se concentra na tumultuada relação da cantora Tina Turner com o ex-marido, Ike.
A sede de vingança da cantora e a vontade de lavar a roupa suja do relacionamento em público é o que o filme tem de melhor.
O diretor Brian Gibson não perde mais de três minutos mostrando a infância da cantora. Logo, ela é uma adolescente que entra para a banda de Ike tendo no currículo apenas a expulsão de uma igreja batista por cantar alto demais.
Sem mostrar como a cantora desenvolveu seu talento, o filme leva o espectador à conclusão de que foi Ike quem lapidou a voz da moça. No filme, sem o atrito com Ike, não haveria o fogo de Tina.
Seja com um beijo no palco ou com um tapa no camarim, Ike transformava a cantora em um vulcão raivoso. As brigas mostradas no filme, antecedem as melhores performances de Tina no palco. O detalhismo da interpretação de Bassett surpreende quando, em passagens rápidas, ela pressiona o queixo contra o pescoço imitando Tina cantando notas mais graves.
Mas quem brilha mesmo no elenco é Laurence Fishburne no papel de Ike. Ele passa por uma verdadeira metamorfose durante o filme. Começa como um líder de banda "cool", vira um junkie inconsequente e termina como ex-marido arrependido.
Em todas as situações, Fishburne explora a lógica interna do personagem que, independente das surras na mulher, tinha suas razões. E consegue até despertar simpatia pelo seu gênio explosivo.
Com o filme e o livro, Tina conseguiu o que queria, se vingou de Ike. Mas dois momentos no filme tiram parte dos méritos dessa vingança.
Um deles mostra Tina, ainda na banda de Ike, numa vigorosa interpretação de "Proud Mary", em Londres. O outro mostra a cantora, já com o status de pop star, subjugando a platéia numa versão morna de "What's Love Got to Do with It", no Ritz de NY.
Cabisbaixo, Ike sai do Ritz sintomaticamente. O vulcão que criara jamais iria ter a mesma incandescência. Como toda biografia de celebridade, "Tina" oferece, no mínimo, o prazer fugaz da bisbilhotice. A velocidade com que as cenas se sucedem garante um ritmo que prende a atenção. Mas como toda autobiografia, "Tina" é sectário. Faltou o outro lado.

Lançamento: Tina - What's Love Got to Do It
Direção: Brian Gibson
Elenco: Angela Bassett e Laurence Fishburne
Distribuição: Abril Vídeo (tel. 011/ 832-1555)

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