São Paulo, quinta-feira, 21 de abril de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Manzanera amplia 'latinidad' dos Paralamas

HÉLIO GOMES
DA REDAÇÃO

Phil Manzanera produzindo os Paralamas do Sucesso. A notícia pegou de surpresa muitos desavisados, que nunca imaginariam tal combinação.
Porém, "Severino" é apenas mais um dos discos de artistas latinos produzidos pelo ex-guitarrista do Roxy Music. Em um ano, Manzanera trabalhou com o grupo pop espanhol Los Heroes del Silencio, o ex-vocalista da banda espanhola Nacho Pop, Antonio Vega, e a banda de flamenco-rock Cherokee. Os alemães Nina Hagen e Dichten fr Layla fecham a lista.
Em entrevista exclusiva à Folha, de Londres, Manzanera conta os detalhes das gravações do novo disco dos Paralamas. Se não bastasse, o produtor entra em estúdio no próximo mês com o compositor argentino Fito Paez.

Folha - Como surgiu o convite para produzir "Severino", dos Paralamas?
Phil Manzanera - Um amigo me falou sobre o grupo, que eles estavam tocando com Brian May (guitarrista do Queen) aqui na Europa. Eu estava produzindo o disco de Nina Hagen, e resolvi assistir ao show deles para conhecê-los.
Fui apresentado ao Herbert numa festa que estávamos dando em meu estúdio para Nina. Logo percebi que ele era muito inteligente e gostei muito de suas idéias. Ele traduziu algumas de suas letras para mim e logo em seguida já estávamos acertando os detalhes para as gravações.
Folha - Segundo os Paralamas, você acrescentou uma brasilidade diferente ao som do disco. Como você explica isso?
Manzanera - Uau... Não, eles é que trouxeram tudo. A única coisa que fiz foi adequar a sonoridade da banda ao que o público europeu espera ouvir de um grupo pop brasileiro. Mas a maior parte da idéias veio dos Paralamas.
Meu papel era ouvir as idéias, entendê-las e desenvolvê-las. Claro que minha influência pode ser sentida, mas o crédito é da banda.
Folha - Você acha que os Paralamas são capazes de conquistar espaço no mercado europeu?
Manzanera - Generalizar é impossível na Europa. Eles podem se dar muito bem em alguns países, como a Espanha e a Alemanha. Já na Inglaterra é difícil uma banda como os Paralamas dar certo.
Seria muito bom se eles viessem para cá e fizessem um show para o público que já os conhecem, mas é uma perda de tempo. O mercado é dominado por pessoas sem abertura, que são fechadas a qualquer tipo de música que não seja cantada em inglês.
Os Paralamas são muito importantes num contexto latino, inclusive nos EUA, no mercado latino interno. Eles têm idéias muito sofisticadas. O grupo consegue unir o que há de mais moderno em tecnologia com letras inspiradas.
Folha - E a participação de Brian May no disco?
Manzanera - Ele tocou guitarra e fez alguns vocais em "El Vampiro Baja el Sol" (primeira letra de Herbert em espanhol). Sua contribuição é única e instintiva. Mas você não consegue ter Brian May numa canção sem que ela acabe se parecendo com uma ou outra do Queen (risos). O que houve foi uma ótima combinação entre Brian, os Paralamas e Fito Paez (que compôs a música e ainda tocou piano na faixa).
Folha - Como você encara o fato de seu grupo, o Roxy Music, ter gerado dois dos mais importantes produtores da atualidade, você e Brian Eno?
Manzanera - Brian Eno é o mesmo que sempre foi: um artista conceitual único e muito interessante. Hoje, ele traz suas idéias ao mundo do pop com o U2, como já fez com outros. E as idéias são a coisa mais importante na música. A técnica é algo que qualquer um pode dominar através da prática.
A questão está atrás da técnica, como você usa o que tem, e é nesse ponto que Brian Eno é genial. Ele sempre foi um homem de concepções brilhantes. Por outro lado, ele concentra suas atenções apenas no pop anglo-saxão. Ele nem mesmo fala espanhol (risos)!
Fico muito feliz em poder expandir meus horizontes, poder trabalhar com artistas latinos. É uma maneira de voltar às minhas origens, pois fui criado em Cuba e na Venezuela. De qualquer maneira, fico muito orgulhoso que pessoas do Roxy Music ainda exerçam uma influência tão forte no mundo da música. É um orgulho ter sido parte daquilo.
Folha - Como foi a sua convivência com os Paralamas? Eles moraram algum tempo no seu apartamento, não?
Manzanera - É verdade. Nos tornamos bem amigos, e eles até me convidaram para ir ao Brasil para alguns shows. Nunca fui até aí, e gostaria muito de fazer isso. Espero que eles mantenham o convite quando voltarem a fazer shows. Pegarei minha guitarra, entrarei num avião e estarei aí.
Adoro tocar como convidado em shows de amigos. Depois de um tempo você fica cheio de passar sua vida no estúdio.
Folha - E sua própria música?
Manzanera - Não tenho escrito muita coisa agora, mas planejo gravar meu novo disco nos próximos meses. São canções abstratas, é uma espécie de continuação do meu primeiro disco, "Primitive Guitars" (82). O que faço é dar forma a coisas que toco na base da improvisação.

Texto Anterior: CONHEÇA OS GÊNEROS CABO-VERDIANOS
Próximo Texto: Conheça o Roxy Music
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.