São Paulo, quinta-feira, 21 de abril de 1994
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'Pena é justa para memória das vítimas'

ANDRÉ LAHÓZ
DE PARIS

O advogado Joë Nordmann, 84, é um ex-membro da Resistência Francesa. Logo após a ocupação alemã, ajudou a criar a Frente Nacional Judiciária, braço jurídico do movimento anti-nazista. Viveu na clandestinidade durante o regime de Vichy.
Nordmann foi representante da Resistência Francesa no Tribunal de Nurembergue que julgou nazistas e secretário-geral da Associação Internacional dos Juristas Democratas.
Esteve ligado ao processo contra o nazista Klaus Barbie. Foi o advogado de Georges Glaeser, filho de um dos judeus mortos, no processo Touvier. A seguir trechos de sua entrevista à Folha.

Folha - O que achou da pena de prisão perpétua para Paul Touvier?
Jo‰ Nordmann - É uma pena justa para a memória das vítimas porque mostra que os organismos de Vichy, em particular a milícia, foram cúmplices dos alemães.
Não é inútil relembrar que a legislação de Vichy contra os judeus foi responsável pela deportação de milhares de pessoas aos campos de concentração. Esta ação da cúpula de Vichy não pode ser caracterizada senão como crime contra a humanidade.
Mas o veredicto tem também um grande papel a nível internacional. No mundo inteiro se cometem crimes contra a humanidade, como, por exemplo, a limpeza étnica que ocorre na ex-Iugoslávia. Assim, o processo Touvier representa um aviso a todo o mundo.
Folha - O que o senhor acha da declaração de Mitterrand no sentido de esquecer o passado?
Nordmann - Corresponde a uma declaração que já havia feito o ex-presidente Georges Pompidou e que foi usada pela defesa de Touvier. Acho que o júri fez muito bem em desconsiderar esse argumento sem nenhum valor, que ofende aos franceses. Os colaboracionistas foram poucos, principalmente nos últimos anos da ocupação, e devem ser julgados.
Folha - O regime de Vichy é ainda muito mal digerido pelos franceses.
Nordmann - Isso é apenas parcialmente verdade. É verdade que durante muito tempo se tentou esquecer essa parte de nossa história.
Mas já há 15 ou 20 anos os historiadores começaram a estudar mais profundamente o regime de Vichy, principalmente após a possibilidade de consulta aos arquivos (que ficaram proibidos).
A cada dia que passa o extermínio dos judeus desperta mais atenção, com novos livros e filmes. E acho que não somente na França, mas no mundo inteiro. As coisas evoluem, mas com o tempo. O processo de Paul Touvier ajuda na cicatrização.
Folha - O que acha da ajuda de católicos a Paul Touvier?
Nordmann - Não acho que a Igreja Católica como instituição tenha ajudado Touvier. Mas inúmeros católicos o fizeram. A razão é simples: muitos deles têm uma ideologia comparável à de Touvier. (AL)

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