São Paulo, quinta-feira, 21 de abril de 1994
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Mundo diz obrigado à 'caixinha'

CARLOS KAUFFMANN
DA REPORTAGEM LOCAL

Cabeça, gosto, lambidela, molhadura, lambuja ou, simplesmente, gorjeta. Pagar "algo mais" por um serviço prestado é um costume cuja origem já se perdeu no tempo. Propina, aliás, vem do latim e significa "dádiva".
As particularidades culturais de cada país definem quando dar e o quanto dar de gorjeta. No Japão, gorjeta é considerada um insulto. Nos EUA, insulto é não dá-la, ou dar menos que o esperado.
O quadro ao lado mostra quanto se costuma dar de gorjeta em 25 países. Não são valores rígidos. Variam de acordo com a categoria do hotel, o tempo de estada, o serviço prestado, a distância da capital –e até a aparência do turista.
Quem, por exemplo, esperaria menos de US$ 100 (CR$ 106 mil) para abrir a porta do carro do sultão de Brunei (Sudeste Asiático), o homem mais rico do planeta?
A resposta é ninguém, já que correu o mundo a notícia de que ele teria dado uma gorjeta de US$ 170 mil –o equivalente a 22 carros Uno Mille– aos funcionários do hotel Four Seasons, na ilha de Chipre (Mediterâneo).
Às vezes, a gorjeta não significa tanto o que se paga por um serviço feito com qualidade, mas o preço para que as coisas sejam feitas.
É o caso da Índia, onde o "baksheesh" faz pequenos milagres. Dado nas mãos certas, é possível localizar cartas "perdidas" ou obter um assento em um trem totalmente lotado.
O costume de esperar gorjetas é muito arraigado na Europa. "Na França, dar gorjetas é uma prática que floresce e tem estilo", afirma o guia "Frommer's".
Em Paris, cabeleireiros recebem 15% ou mais de serviço. O "lanterninha" do cinema não se contentará com menos de 2 francos (CR$ 3.500,00) para indicar um lugar para duas pessoas.
Para contornar o pagamento de tantas gorjetas, houve já quem deixasse o Brasil com um saco de pedras semipreciosas de baixa qualidade –compradas por quilo em Teófilo Otoni (MG)– especialmente para distribuir mundo afora.
Naquela hora inevitável de pôr a mão no bolso, o viajante sacava uma pedrinha e perguntava: "Você quer essa ametista ou prefere dinheiro?" A escolha sempre recaía na primeira opção.

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