São Paulo, sexta-feira, 22 de abril de 1994
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Leia o documento da CNBB

Esta é a íntegra do texto da CNBB:

"Hora de grande decisão
Nós, bispos da Igreja Católica, por ocasião da 32ª Assembléia da CNBB, sintonizados com os anseios e expectativas de todo o povo, julgamos nosso dever manifestar-nos sobre este ano eleitoral.
A ninguém escapa a singular importância, a abrangência e a repercussão, mesmo além de nossas fronteiras, das eleições gerais do próximo mês de outubro. Com efeito, do resultado delas dependerá, em grande parte, o futuro imediato do Brasil.
É assustadora a quotidiana revelação do outro mapa de nosso país, o mapa da fome, até com cenas dramáticas, do alastramento das doenças, do analfabetismo, do desemprego, da violência, da exclusão, da miséria, além dos graves atentados à família, à vida e aos valores éticos.
Cresce, por outro lado, a justa indignação do povo contra políticos que, tendo sido eleitos para solucionar tais problemas, acabaram flagrados na mais vergonhosa corrupção nem sempre devidamente punida.
daí a preocupante reação de muitos à proposta eleitoral. Vai desde a lamentável tentação de anular o voto ou de votar em branco, até a enganosa ilusão do retorno à ditadura.
Como pastores cabe-nos, neste momento, chamar a atenção para o grande sinal de esperança bem presente no coração da nossa sociedade e que se revela nas incontáveis organizações populares de luta, de resistência pela sobrevivência física, cultural e social. Destacamos também a eloquente resposta solidária da população em face da recente Ação da Cidadania Contra a Miséria, a Fome e pela Vida, ora empenhada em favor do emprego.
Neste contexto, se coloca a inicicativa da 2ª Semana Social Brasileira, promovida pela CNBB, a realizar-se em julho próximo com o sugestivo título: "Brasil, alternativas e protagonistas". Vemos como muito oportuna a contribuição das Dioceses na organização de encontros de formação política, declarações e cartilhas. Incentivar a participação de todos na construção de um país economicamente justo, socialmente equitativo, politicamente democrático e culturalmente plural é a contribuição maior que a Igreja espera dar de maneira permanente. A Igreja, como instituição, para preservar sua unidade, não opta por partidos, mas afirma e oferece princípios e exigências éticas.
Aí está a esperança da democracia como caminho certo, embora difícil e lento, da liberdade, da igualdade, da participação, da solidariedade,do respeito às diferenças. Para isso, é urgente a restauração das instituições públicas, especialmente dos três Poderes, a fim de que assumam de modo mais transparente, harmônico e eficaz seu compromisso com o bem comum.
Devemos dar nosso voto só após conhecer bem a conduta ética e a prática de serviço dos candidatos.Não hesitemos em repudiar o jogo do poder, a manipulação na escolha dos candidatos, o sistemático abuso dos MCS e a corrupção econômica nas eleições. Vender o voto é promover o corrupto e tornar-se cúmplice da corrupção dele.
Mais ainda, importa que nos informemos sobre os programas de governo e de partidos. E que estes programas não sejam fechados, mas se abram ao debate, à crítica e à participação do povo, que não é mero eleitor, mas sujeito da democracia.
As eleições deste ano são um apelo privilegiado à presença e ao compromisso dos leigos cristãos na política. Queremos incentivar suas reflexões ou iniciativas verdadeiramente justas e democráticas. Saibam que têm o respaldo e o apoio dos seus pastores (cf. SD.nº 99).
Reafirmamos nossa esperança de que o povo brasileiro, participando do processo democrático através do voto, avance na aspirada realização de mudanças urgentes e profundas e na construção de um Brasil digno, justo e solidário.
Nesta hora de grande decisão, rezemos pelo nosso país, confiantes nas bênçãos de Deus."

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