São Paulo, sexta-feira, 22 de abril de 1994
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Brasil não ganhará nenhum tetra em 1994

BARBARA GANCIA
COLUNISTA DA FOLHA

O Brasil não vai de tetra em 1994. Escreva o que eu digo, ó ufanista animadinho. Senna não conquistará o tetra na F-1. E a seleção brasileira, a despeito do esforço leonino de Parreira, não emplaca nos EUA.
Não faço estas previsões baseada apenas nas péssimas atuações de Ayrton Senna nas duas primeiras provas do ano. Também não afirmo isto baseada na gelada performance da seleção no jogo de quarta contra os franceses. Afinal, sem Bebeto e Romário no ataque, a contenda só serviu para testar eventuais reservas.
O buraco é mais em baixo. Senna não ganhará o título de 94 por uma razão simples: falta de motivação.
É preciso mais do que braço para se conquistar um campeonato de Fórmula 1. É preciso um esforço sobre-humano. E, este ano, o milionário tricampeão não demonstra disposição para assumir o sacrifício.
Nuno Cobra, preparador físico de Ayrton, reluta em admitir publicamente, mas a verdade é que seu pupilo está em péssima forma física.
Para piorar, ultimamente, ele tem cometido um erro atrás do outro. Além de erros de pilotagem e estratégia cometidos no GP Brasil e no GP do Pacífico, Ayrton também errou ao achar que a parada estava ganha antes de sentar o bumbum no Williams –depois constatou que o carro não é nenhuma Brastemp. E errou novamente ao subestimar o potencial do sedento Schumacher.
Quanto ao tetra no futebol, são dois os fatores que ferram a seleção. Primeiro: fica difícil acreditar que uma campanha do porte de uma Copa do Mundo possa ser bem-sucedida sob o comando do cartolaço Ricardo Teixeira. Segundo: fica difícil acreditar que os contratos publicitários assumidos pelos jogadores não prejudicam o rendimento da equipe.
Imagine, ó ufanado torcedor, a seguinte situação. Na final Brasil x Alemanha, a seleção perde por um gol. Aos 44 minutos do segundo tempo, Romário fica cara a cara com o gol adversário. Na hora de mandar bala, o atacante vacila. Em vez de chutar e depois fazer o número um com o dedo, ele inverte a operação e o goleiro teutônico salva a bola. Exagero? Ou não será verdade que jogador de futebol tem pensamento binário? Em Copa do Mundo toda concentração é pouca. Chutar e fazer número um, não dá pé.

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