São Paulo, sexta-feira, 22 de abril de 1994
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Das crises, a menor

SÍLVIO LANCELLOTTI

Para o bem de todos e a felicidade geral da nação, outras seleções atravessam crises muito piores do que a do Brasil. Na quarta-feira, repleta de desafios internacionais, a Argentina penou para superar o Marrocos, 3 x 1. Maradona jogou e não brilhou, embora tenha feito um gol, de pênalti.
Outra equipe situada entre as favoritas, a poderosa Holanda desabou dentro de casa, 0 x 1, frente à Irlanda retranqueira de Jackie Charlton. Isso para não recordar a Itália patética de Arrigo Sacchi, um time sem personalidade.
Na comparação, parecem bastante mais complicados os problemas de Sacchi, do platino Alfio Basile, do nederlandês Dick Advocaat. Por falta de avante, o peninsular precisa improvisar Roberto Baggio na frente e, assim, elimina as chances de criatividade no seu meio-campo. Por falta de defensores, Advocaat se obriga a recuar em demasia Frank Rijkaard, perdendo vigor e lucidez entre as duas intermediárias.
Basile se debate com a questão Maradona. Quase dez quilos acima do peso ideal, o ex "Pibe de Oro" só tem fôlego para 45 minutos. Com ele, a Argentina atua de uma forma. Sem ele, claro, de outra.
Quanto aos dilemas de Carlos Alberto Parreira, esses me parecem solucionáveis –desde que o treinador se disponha a rever a sua incrível teimosia. Cito quatro pontos que me parecem cruciais.
1) A insistência do treinador em valorizar Taffarel, um arqueiro que não sabe sair da sua meta.
2) A insistência em valorizar Ricardo Gomes, um rapaz digno na profissão errada. Apesar de sua altura Gomes foi ridiculamente ludibriado pelo alto, em duas bolas cruzadas pelo combinado francês.
3) A insistência em valorizar Dunga, um homem fogoso mas um volante medíocre, que não sabe sequer cercar o inimigo. A sua entrada num atacante gaulês, ainda na etapa inicial, representaria a sua expulsão num jogo da Copa.
4) O temor em usar mais de dois atacantes no time padrão.
Raciocine comigo, prezado leitor. Hoje, no futebol do mundo, quase todos os clubes e seleções entram em campo com, no máximo, dois atacantes. E, ainda assim, usam cinco zagueiros. Se o Brasil ostentar três avantes, as retaguardas adversárias terão de reforçar –com a diminuição do seu poder ofensivo. Elementar.
Eu até aceito que o time de Parreira use, eventualmente, dois volantes. Desde que eles se chamem Mazinho ou César Sampaio ou Axel ou Moacir.

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