São Paulo, sexta-feira, 22 de abril de 1994 |
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Marcel deixa as quadras e vira técnico de basquete
EDGARD ALVES
Como jogador, atuou pela última vez no Palmeiras, recentemente, na Liga Nacional. Como técnico já contratado pela equipe da Guaru, de Guarulhos, faz contatos para montar o time. Marcel está com 37 anos (nasceu em 4/12/56, em Campinas/SP). Incentivado pelos pais, os ex-atletas Ramon e Circe, começou no basquete aos 12 anos, em Jundiaí. Não parou mais. Um de seus momentos inesquecíveis foi a cesta no último segundo, quase do meio da quadra, em outubro de 78, que bateu a Itália por 86 a 85 e deu a medalha de bronze ao Brasil no Mundial das Filipinas. Marcel defendeu a seleção em cerca de 400 jogos. É casado com a ex-jogadora de vôlei Ivonete e pai de Gabriela, 9. Formado em medicina, faz especialização em radiologia no Hospital das Clínicas, em São Paulo. Marcel defendeu clubes do Brasil (Corinthians/SP, Jundiaí Clube, Sírio, Monte Líbano, Corinthians/RS e Palmeiras), dos EUA (Bradley University) e da Itália (Caserta e Fabriano). Diz que era chegado o momento de mudar e que vai ser um técnico exigente. Folha - O que o leva a encerrar a carreira de atleta? Marcel Ponikwar de Souza - Penso mais rápido do que o físico pode suportar. É melhor orientar em vez de jogar. Folha - É decisão sem volta? Marcel - Nem em time de veterano vou jogar. Creio que completei minha época de basquete. Para exercitar vou jogar outra coisa. Folha - É possível conciliar o trabalho de técnico de basquete e o exercício da medicina? Marcel - Estou me especializando em radiologia. É um trabalho mais enquadrado em horário, sem emergência. No basquete, posso marcar treino de acordo com minha conveniência. Folha -Qual foi sua maior emoção como jogador? Marcel - Indiscutivelmente, a conquista da medalha de ouro nos Jogos Pan-americanos de 87. Folha - Com o passar dos anos, qual é o maior obstáculo no caminho do jogador? Marcel - Pensar que sabe tudo e que não precisa treinar. Folha -O Kareem Abdul-Jabbar, na NBA, e o Hélio Rubens Garcia, no Brasil, jogaram até depois dos 40. Foram exceções? Marcel - O Kareem não conheci. O Hélio vi de perto. Tinha uma capacidade física extraordinária e só parou porque o time necessitou de um técnico e praticamente exigiram que ele assumisse. Folha - Após mais de duas décadas de basquete, títulos e seleções, uma retirada sem homenagem chega a ser melancólica? Marcel - Não. Tudo que consegui na vida, até mesmo me formar médico, foi graças ao basquete. O basquete já me pagou tudo. Não preciso de homenagem. Eu é que estou grato por ter construído minha vida com o basquete. Folha - O aspecto financeiro também compensou? Marcel - É a velha história. Ganhei mais do que precisava e menos do que merecia. Folha - Teve ídolos? Marcel - A princípio, o Amaury, o Vlamir e o Ubiratã. Depois copiei o jeito de jogar do Menon. Mas o ídolo mesmo acabou sendo o Larry Bird, que tinha a minha idade e que só vi jogar depois de algum tempo. Era aquele tipo de jogador decisivo. Quando o time precisava, lá estava ele. Folha - Qual deve ser a maior virtude de um treinador? Marcel - Varia. Num país de dois milhões de jogadores, ele pode criar sua escola. Aqui é diferente. O técnico deve saber aproveitar o máximo de cada jogador. Por exemplo, se é bom atacante, explorar sua capacidade ofensiva. Folha -O pior defeito de um técnico? Marcel - Achar que sabe tudo. Folha - Para um técnico, qual é o pior defeito de um jogador? Marcel - Falta de respeito ao técnico, ao basquete e ao jogo. Folha - A principal qualidade de um jogador? Marcel - A vontade de melhorar sempre. Folha - Qual foi o principal técnico na sua carreira? Marcel - No Brasil, tive a felicidade e prazer de trabalhar com os melhores. Só faltou o Kanela. Com uns aprendi muito o que fazer e com outros, o que não fazer. Tenho muito respeito pelo Ary Vidal e muita gratidão pelo Edvar, que me relançou no basquete, praticamente me fez jogar os últimos oito anos. Folha - O Brasil tem potencial para continuar entre os cinco primeiros do mundo? Marcel - Está em fase de transição. O 5º lugar não é tão importante como trabalhar para o futuro. Folha - Qual sua previsão para o Brasil no Mundial de Toronto (Canadá), em agosto? Marcel - Vamos ter metade do time com 30 anos e dá para ficar entre os cinco melhores. Na Olimpíada de 96, com mais dois anos, já vai ser diferente. Folha - O que falta para o basquete brasileiro decolar? Marcel - Os times estão fazendo um esforço sobrenatural, mas cada um no seu caminho. Falta conscientizar para uma saída comum para todo mundo. Texto Anterior: Das crises, a menor Próximo Texto: Orlando vence com recorde de O'Neal Índice |
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