São Paulo, sexta-feira, 22 de abril de 1994
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Uakti faz primeira turnê pelo Brasil

LUÍS ANTÔNIO GIRON
DA REPORTAGEM LOCAL

O trio mineiro Uakti está lançando no Brasil o CD "I Ching". É o quinto disco em quinze anos de carreira de um conjunto que sempre teve mais sucesso no exterior do que no Brasil.
Para corrigir a defasagem, o Uakti pretende atuar mais no país. Seus membros –os músicos Artur Andrés Ribeiro, 34, Décio de Souza Ramos, 36, e Paulo Sérgio dos Santos, 40– agendam para agosto o início de uma turnê por cinco capitais brasileiras.
Nos planos do grupo está participar de balés do Grupo Corpo de Belo Horizonte. A companhia vai estrear "I Ching" no ano que vem. Antes, no dia 1º de junho, o Corpo apresenta "Sete ou Oito Peças para um Balé" no Teatro Municipal de São Paulo.
A música foi feita pelo norte-americano Philip Glass e gravada há duas semanas pelo Uakti. O arranjo é do compositor Marco Antônio Guimarães, 45, diretor artístico, ex-componente e construtor dos instrumentos do grupo.
O CD "I Ching" representa para o trio um impulso na direção das novas tendências da música erudita contemporânea.
O trabalho, baseado no clássico divinatório chinês "I Ching", foi editado em janeiro nos EUA pelo selo Point Music, dirigido pelo compositor norte-americano Philip Glass. Na ocasião, o grupo fez uma turnê pelos EUA.
O Uakti é o único grupo brasileiro de música experimental a ter fama internacional. O êxito se deve a quatro fatores. Os musicais são a alta qualidade das performances, a música quase terapêutica (alguns a chamam de esotérica) e o elenco de instrumentos originais, construídos com materiais não-convencionais, como PVC, arame e crina de cavalo.
O fator sorte fica por obra de bons contratos com o selo Point Music, que produziu em 1992 o disco "Mapa" (não lançado no Brasil), e com a empresa Columbia Artists, a maior agência de artistas eruditos dos EUA.
"A gente vive no mundo da lua", diz Artur, reforçando a fama esotérica do trio. "Trabalhamos com muitos instrumentos únicos e isso abre a cabeça para outros assuntos". Ainda assim, trabalham três vezes por semana na oficina do grupo em Belo Horizonte e duas como professores na Universidade Federal de Minas Gerais.
O Uakti foi formado em 1979 por ex-músicos da orquestra sinfônica local. Marco Antônio era violoncelista; Artur, flautista; Décio e Paulo, percussionistas. Eles resolveram se reunir em torno das idéias de Marco que, no fim dos anos 70, se dedicava a construir instrumentos estranhos.
"Eu peguei o hábito na Bahia", diz. "Cheguei lá querendo tocar em orquestra. Um dia me perguntaram se eu conhecia 'o louco do porão', que trabalhava no subsolo da faculdade. Desci. Encontrei Smetak rodeado dos instrumentos mais loucos".
O suíço Walter Smetak (1913-1984) se notabilizou pela invenção de instrumentos e pela música extravagante. Marco conviveu com ele para sorver-lhe a técnica. "Passei a fazer os meus próprios instrumentos, me mudei para BH e aí surgiu a idéia do Uakti".
Construiu o grupo como se fosse um de seus instrumentos. Conta que o batizou a partir de uma lenda amazônica sobre um ser cujo corpo é um instrumento. Há dois anos trocou o Uakti pela vida numa comunidade alternativa em Nazaré Paulista (a 53 quilômetros de São Paulo, na região de Atibaia).
"Eles tocam muito mais do que eu", diz. "Expandiram as possibilidades que eu nunca havia pensado para meus instrumentos. Além disso, não gosto de viajar".
Marco só sai do sítio para levar material, compor e produzir os discos do Uakti. "I Ching" foi gravado em Nova York em 1991, mas Marco jura que levou dois anos entre escrever a partitura e ensinar os músicos a tocá-la: "Hoje eles a conhecem de cor."

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