São Paulo, sexta-feira, 22 de abril de 1994
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Moradores aprovam surra

AURELIANO BIANCARELLI
ENVIADO ESPECIAL A CINGAPURA

Foo Iew Meng, de 20 anos, nasceu em Cingapura e cursa o terceiro ano de engenharia naval da universidade local.
É a favor da surra de vara de bambu que deve receber o americano Michael Peter Fay, 18, preso aqui e acusado de vandalismo.
"Mão dura é o segredo do sucesso de Cingapura", diz ele.
Foo é filho de pais chineses estabelecidos há 30 anos na ilha. O pai, Foo Say Hin, 56, trabalha no comércio e mora em apartamento financiado pelo governo.
O pai Foo Say também é favorável às vergastadas. "Não fosse esse rigor, Cingapura estaria pobre e eu também."
Colegas universitários de Foo acham que a surra de bambu deveria ser trocada por uma multa maior e um tempo de prisão mais longo. Fay está condenado a quatro meses de cadeia e multa no valor de US$ 2.000.
Fay está preso em Queenstown Prison desde o último dia 3 de março. O advogado de Fay visitou o garoto ontem e disse que ele está tenso, mas confiante.
O advogado disse acreditar que o presidente vai atender seu apelo. Os cingapurianos vêem o castigo como justo e normal.
Além de Fay, quatro outros jovens estão sendo julgados por este crime: outro norte-americano, um de Hong-Kong e dois da Malásia.
O assunto tem ocupado espaço no "The Straits Time", o maior jornal de língua inglesa e espécie de porta-voz do governo local.
Na edição de ontem, o ex-primeiro ministro Lee Kuan Yew disse que Cingapura conseguiu manter suas ruas seguras graças a um sistema penal duro.
Lee é ainda o homem forte do regime e pai da rápida transformação que sofreu Cingapura.
"Se alguém pensa que nossas leis lembram a barbárie, então, por favor, não traga seu filho de 18 anos para cá. Se quiser, avise sobre as consequências", afirmou.
Oficialmente, as embaixadas em Cingapura não comentam o caso. É assunto interno, dizem.
Dennis Donahui, da embaixada americana em Cingapura, disse que os cidadãos dos EUA que vivem na cidade conhecem as leis do país. "Aqui eles são convidados. Estão sujeitos às leis locais."
Donahui disse que seu país não sabe ainda o que fará caso o apelo ao presidente seja negado.
Os estrangeiros ouvidos preferem não comentar o caso, mas concordam que a cidade é segura graças ao rigor de suas leis.
"Tomo taxi às 2 da madrugada sem problemas", disse uma funcionária da embaixada brasileira. "É o lugar mais seguro do mundo", diz. Ela já trabalhou em uma dúzia de cidades em todo mundo.
Um executivo de uma multinacional inglessa disse que Cingapura é "cidade ideal para se criar os filhos com segurança". "Mas tudo aqui é muito certo. Cansa logo."

O jornalista AURELIANO BIANCARELLI viajou a convite da South Afircan Airways

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