São Paulo, sexta-feira, 22 de abril de 1994
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Líder zulu também exige autonomia

CLÓVIS ROSSI
DO ENVIADO ESPECIAL

Se os conservadores brancos mantêm a exigência de seu próprio Estado, os negros zulus que militam no Partido da Liberdade Inkatha fazem o mesmo.
Ontem, seu líder, o chefe Mangosuthu Buthelezi, voltou a exigir autonomia para a sua etnia, e ainda deu conteúdo ideológico à sua pregação.
"O Congresso Nacional Africano pretende perpetuar a tirania do governo central e sujeitar o povo de KwaZulu a uma ditadura comunista", afirmou Buthelezi em comício.
Os comunistas sul-africanos fazem parte do CNA.
O suposto fantasma do comunismo, em função da previsível vitória do CNA, tem sido usado como arma propagandística também pelo Partido Nacional, do presidente De Klerk.
Ao contrário do Partido Conservador, Buthelezi decidiu participar da eleição no último momento (terça-feira passada).
Ele também condicionava a entrada do Inkatha na luta eleitoral à autonomia de KwaZulu, o território reivindicado por seu partido para os 8,35 milhões de zulus, o maior grupo étnico-cultural negro sul-africano.
Buthelezi cedeu ante uma promessa de que a futura Constituição contemplará pelo menos alguma forma de autonomia para KwaZulu. A atual Constituição é provisória e durará no máximo cinco anos.
O Inkatha é um aliado natural dos conservadores brancos. Tanto que fazia parte, originalmente, da Frente da Liberdade do general Viljoen.
Preferiu, no entanto, disputar em faixa própria, na tentativa de medir qual a sua real força entre os zulus.
Pesquisas feitas até a proibição de divulgação, em vigor a partir do último dia 4, davam ao Inkatha apenas de 21% a 23% do voto zulu, contra 42% a 50% para o CNA, cuja liderança é predominantemente xhosa.
Os xhosas são a terceira maior etnia negra (2,5 milhões, em uma população negra total de 23 milhões).
O governo a ser formado após a eleição pode acabar reunindo todos esses inimigos.
A Constituição provisória prevê que todo partido que obtiver ao menos 5% dos votos participará do governo.
Quem atingir o quociente eleitoral mínimo terá representação também na futura Assembléia Nacional de 400 membros, justamente a incumbida de redigir a nova Constituição.
É nela, portanto, que explodirão os conflitos em torno da autonomia para brancos e zulus.
(CR).

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