São Paulo, sexta-feira, 22 de abril de 1994
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Branco sul-africano faz ameaça de guerra

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A JOHANNESBURGO

O Partido Conservador, da extrema direita sul-africana, reacendeu ontem a ameaça de luta armada após as eleições da próxima semana, as primeiras multirraciais no país.
"Não somos do tipo revolucionário, mas teremos que seguir a rota da resistência", afirmou seu líder, Ferdinand Hartzenberg, ao recusar definitivamente a hipótese de participar do pleito.
Outro líder da extrema direita, o general Constand Viljoen, fizera nas últimas 48 horas uma nova tentativa de atrair os conservadores para a arena eleitoral.
Viljoen é o candidato principal da Frente da Liberdade, que deveria agrupar toda a extrema direita, inclusive, até semana passada, o Inkatha, de maioria zulu.
Mas o Partido Conservador exigiu que a Constituição provisória estabelecesse claramente o direito de os brancos sul-africanos criarem o que chamam de "Volkstaat" (literalmente "pátria do povo", mas, na prática, a pátria dos africâners, os sul-africanos brancos).
Tanto o presidente Frederik de Klerk (Partido Nacional) como Nelson Mandela (Congresso Nacional Africano, o CNA), o virtual futuro presidente, recusaram a proposta.
O secretário-geral do CNA, Cyril Ramaphosa, ainda deixou aberta uma pequena brecha para o "Volkstaat", condicionando-o, no entanto, à participação eleitoral dos conservadores.
"Vamos nos encontrar no Parlamento e, então, poderemos discutir a idéia mais efetivamente", disse Ramaphosa.
A hipótese de luta armada não foi afastada sequer pelo general Viljoen, que já foi comandante do Exército.
Em entrevista ao jornal "The Star", Viljoen condicionou, no entanto, o que chama de "opção militar" ao esgotamento dos outros meios para obter a autonomia para a população branca.
"Será preciso que eu possa colocar-me diante de Deus e dizer que tentei todas as outras opções", disse o general.
Coincidência ou não, uma bomba explodiu ontem nos escritórios da Comissão Eleitoral Independente (o TSE sul-africano) na localidade de Hoopstad.
Trata-se do primeiro atentado contra a CEI, ocorrido justamente numa cidade dominada pelos fazendeiros brancos.

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