São Paulo, sábado, 23 de abril de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CNBB encerra encontro com crítica à campanha da Aids

DA FOLHA SUDESTE

A 32.ª Assembléia Geral da CNBB terminou ontem em Itaici, município de Indaiatuba (110 km de São Paulo), com a divulgação de um documento criticando as campanhas sobre Aids feitas pelo governo e outro sobre eleições.
O documento da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) condena o sexo antes do casamento e afirma que a educação é a melhor prevenção contra a Aids.
Durante o encontro dos bispos, foi esboçado também o que seria o perfil ideal de um candidato à Presidência da República para a Igreja.
As conclusões estão em documento divulgado anteontem. O candidato da Igreja deve ter conduta ética e prática de serviços, segundo o texto.
A Igreja também condenou o voto branco ou nulo e fez um alerta aos fiéis para que não "vendessem" seus votos, o que equivaleria a tornar-se "cúmplice" da corrupção.
Uma das novidades do encontro deste ano foi a inclusão na pauta da discussão sobre Aids entre o clero.
O tema não foi citado no documento sobre Aids, por ter sido considerado assunto interno da Igreja.
O tema foi proposto por d. Angélico Sândalo Bernardino, bispo auxiliar de São Paulo (região de Brasilândia), um dos representantes da ala progressista da Igreja.
A discussão representou um reconhecimento oficial do problema por parte da Igreja.
Segundo d. Celso Queiroz, secretário-geral da CNBB, a discussão girou em torno da forma de atender os padres portadores do vírus HIV, causador da síndrome.
D. Luciano Mendes de Almeida, presidente da CNBB, disse que todos os casos que conhece tiveram como fonte de contaminação a transfusão de sangue.
Ele afirmou, no entanto, que se a causa for algum "defeito de conduta" (referência à possível quebra do celibato, seja em relacionamentos homossexuais ou heterossexuais), a Igreja deve ajudar o padre a corrigir sua atitude.
Outro tema polêmico discutido durante o encontro foi a atuação da RCC (Renovação Carismática Católica), movimento que adota práticas semelhantes às dos pentecostais, como promessas de curas.
Um documento que tinha por objetivo limitar a atuação da RCC foi rejeitado durante a assembléia.
Quanto à política, d. Luciano Mendes de Almeida disse que coligações entre partidos com o único objetivo de ganhar eleições representam um fisiologismo (troca de votos por cargos ou vantagens).
"Não me sinto bem com essa posição. Não entra no meu quadro ético isso aí", afirmou, em entrevista após o encerramento do encontro da CNBB.
Almeida negou que tenha recuado da afirmação feita no domingo de que considerava "meio forçada" a aliança entre o PSDB e PFL.
"Não sei em que eu recuei. Estranho tudo que não tem conteúdo. Tem que ter uma razaão de ser."
Ele voltou a afirmar ser favorável a alianças destinadas a garantir "governabilidade".
"Não basta a pessoa vencer se não tiver apoio depois. Porque nós vamos ter vencedores, mas não teremos ação."
Perguntado sobre a politização da Igreja este ano em relação à última eleição presidencial, ele disse que a Igreja está a serviço da consciência política da população.
"Se isso está ajudando a população a votar, a Igreja está mais politizada, sim."
Ele afirmou estar otimista em relação às próximas eleições.
Segundo ele, a fase "dramática" do escândalo da corrução forneceu critérios para escolha de candidatos.
"Candidatos que têm capacidade de apresentar, por exemplo, a relação de seus bens e tenham a vontade decidida, que poderia ser até assinada, de não aumentar seus vencimentos de forma descabida e que tenham também a capacidade de se deixar confrontar com seu eleitorado."
Almeida disse que a declaração oficial da CNBB sobre as eleições é um resumo da posição da Igreja sobre o assunto.
Ele disse que o principal é que o povo evite ser "cabrestado" e não desperdice o voto.

Texto Anterior: Bispo critica a Polícia Militar
Próximo Texto: Coluna comenta erros da língua
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.