São Paulo, sábado, 23 de abril de 1994
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Americano diz que foi 'bode expiatório'

LUÍS EDUARDO LEAL
DA REPORTAGEM LOCAL

O norte-americano Richard Harrod Pedicini, 36, passou dez dias em duas delegacias de São Paulo sob suspeita de que sua casa, na Aclimação (zona sul), seria o local usado nas supostas orgias envolvendo os alunos da escola Base.
A suspeita foi afastada após dois alunos da escola terem visitado a casa na tentativa de reconhecê-la.
As denúncias de abuso sexual de alunos da Escola de Educação Infantil Base, na Aclimação (zona sul), foram feitas no dia 28 de março pela contadora Lucia Eiko Tanoue, 32, mãe de F.J.T.C., 4.
Paula Alvarenga e Maria Aparecida Shimada (sócias da escola), o perueiro Maurício Alvarenga (marido de Paula) e o comerciante Icushiro Shimada (marido de Aparecida) foram acusados de retirar as crianças da Base e levá-las para um local em que ocorreriam orgias (filmadas e fotografadas).
O delegado Gerson Carvalho, da 1ª Delegacia Seccional, assumiu o inquérito e convocou os seis suspeitos a depor. Todos negaram as acusações.
Pedicini foi solto quarta-feira após pagar fiança de CR$ 1 milhão. O inquérito policial que o acusa ainda de "corrupção de menores" foi enviado à Justiça na quarta-feira.
Formado em filosofia pela univesidade Yale (EUA), Pedicini fixou residência no Brasil há três anos, como consultor de informática de uma gráfica de seu país.
A seguir, os principais trechos da entrevista (em bom português):

Folha - Como as crianças e adolescentes do bairro começaram a frequentar sua casa ?
Richard Harrod Pedicini - Foi há três anos quando me mudei para cá. Alguns deles bateram à minha porta e perguntaram se poderiam usar a piscina. Como deixei, outros também passaram a pedir permissão para nadar.
Folha - Você sempre tirava fotos dos meninos nus na piscina ?
Pedicini - As fotos foram feitas em três ocasiões nesses três anos. Alguns dos pais das crianças têm cópias. Outras foram dadas a eles sem que eu ficasse com cópias.
Folha - Você pedia para as crianças tirarem as roupas para fazer as fotos ?
Pedicini - Eu cheguei a comprar roupas de banho para que as crianças não nadassem sem roupa –algumas delas são pobres. Nos Estados Unidos é natural que as crianças façam aulas de natação nuas.
Folha - Como você julga a atuação da polícia no caso?
Pedicini - Queriam achar um culpado e infelizmente eu estava por perto.
Folha – Como foi sua permanência na cadeia ?
Pedicini - Um investigador me deu algumas dicas (Pedicini ficou em uma cela chamada "corró", espécie de espaço de triagem). Devia dizer que fui preso por estelionato e entrar na cela descalço para demonstrar respeito. Não fiquei em cela individual porque meu diploma, assim como o de George Bush (também estudou em Yale), está escrito em latim. Podia ser receita de bolo...
Folha - Ao ser solto, como foi a reação de seus vizinhos?
Pedicini - Calorosa. Havia vizinhos aqui em casa quando cheguei e os garotos vieram falar comigo. Apesar do noticiário desfavorável, eles acreditaram em mim.

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