São Paulo, sábado, 23 de abril de 1994
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Passo em direção à paz duradoura

CAREL JOHANNES BEETGE WESSELS

A história tem provado repetidamente que a paz, a liberdade e a justiça, especialmente em sociedades divididas, somente podem acontecer através da plena democracia, com eleições regulares como uma parte integrante deste processo.
Além do que, negociações acompanhadas de um processo de democratização são o único caminho para a solução pacífica de disputas.
As eleições de 26, 27 e 28 de abril de 1994 são vistas por muitos sul-africanos como o ápice de uma revolução silenciosa que levará à liberdade, democracia e paz duradoura. São vistas por alguns como a realização de uma aspiração de séculos pela completa participação no processo político do país. As eleições serão um longo caminho em direção à satisfação das grandes expectativas de muitos no país e, assim, darão um grande passo em direção à criação da paz duradoura.
O processo de negociações multipartidárias já avançou um bom caminho na reconciliação dos principais protagonistas do cenário político sul-africano, a ponto de o presidente De Klerk e o sr. Nelson Mandela terem sido os ganhadores do Prêmio Nobel da Paz no final de 1993. Há apenas uma semana, após um debate por vezes acalorado, os dois líderes apertaram as mãos e prometeram trabalhar juntos para o bem de todo o povo da África do Sul.
Em termos da Constituição provisória, um governo de unidade nacional será formado, no qual os vários partidos serão representados proporcionalmente ao seu apoio nacional. Um novo presidente será eleito pelo Parlamento. Cada partido com mais de 6% dos votos nacionais será representado no gabinete ministerial.
Esse governo de unidade nacional contará com o apoio de mais de 80% do eleitorado e governará a África do Sul até 1999 enquanto o Parlamento prepara uma nova Constituição. Estará numa posição de poder para assegurar a continuidade e estabilidade interna.
As eleições não devem, entretanto, ser vistas isoladamente, ou como um fim em si mesmas. São o resultado e parte de um processo de negociação e reconciliação que vem se desenvolvendo por mais de quatro anos.
A Constituição provisória negociada procura atingir uma estrutura democrática que terá legitimidade aos olhos da maioria da população sul-africana. Este processo esforça-se em ser o mais abrangente possível, para assegurar que o resultado seja uma situação de vencedores garantindo a paz e prosperidade duradouras. Mesmo os menores partidos, com apenas 5% de apoio nacional, terão o direito de indicar representantes neste novo governo de unidade nacional.
Tenho confiança que a comunidade internacional não relegará –como tem acontecido com tantos países africanos– a África do Sul aos bastidores após as eleições. Esperamos que mantenha um vigoroso interesse no desenvolvimento do país, garantindo que os princípios da democracia, da livre iniciativa e o desenvolvimento de uma cultura política democrática de valor tão estimado em todo o mundo, sejam também mantidos na nova África do Sul, pois tais fundamentos são indispensáveis à manutenção da paz, da liberdade e da justiça para todos.

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