São Paulo, domingo, 24 de abril de 1994
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FHC é opção de reserva dos conservadores

CARLOS MAGNO DE NARDI E ROSANA DE VASCONCELLOS
DA FOLHA ABCD

ROSANA DE VASCONCELLOS
Em uma eventual disputa entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Fernando Henrique Cardoso (PSDB) no segundo turno das eleições para a Presidência da República, a ala considerada conservadora da Igreja vai apoiar o ex-ministro da Fazenda.
Os bispos que participaram esta semana da 32ª Assembléia Geral da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), encerrada na sexta-feira em Itaici, estão divididos entre as candidaturas de Lula e Fernando Henrique Cardoso.
Os bispos evitam falar do assunto. Avessos a declarações que envolvam nomes de candidatos e partidos, eles esclarecem sempre, antes de dar entrevistas, que suas afirmações são pessoais e que a Igreja não se envolve em política partidária.
Os conservadores preferem candidatos que já ocuparam cargos no Executivo e com experiência administrativa. É o caso de d. Boaventura Kloppenburg, bispo de Novo Hamburgo (RS).
Ele afirma que ficaria "satisfeito" se políticos com o perfil do ex-governador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA) e do senador Esperidião Amin (PPR-SC) ocupassem o lugar de Itamar Franco.
Para justificar a opção pelo candidato do PSDB em uma disputa com Lula no segundo turno, os conservadores se referem à formação intelectual de FHC.
Segundo um bispo alinhado com a ala conservadora, que pediu para não ser identificado, "é preferível um homem intelectualmente brilhante" na Presidência da República.
FHC, porém, sofre restrições para o primeiro turno devido ao seu partido.
"O PSDB é um partido social-democrata que quer a estatização, ao menos por definição", diz Kloppenburg.
Na sua opinião, uma aproximação com o PFL é benéfica porque vai "moderar o ímpeto de um partido social-democrata".
Cartilha
A declaração oficial da CNBB sobre as eleições teve tom mais genérico e moderado que a cartilha sobre o assunto elaborada pelo Setor de Leigos e que o documento apresentado aos bispos pelo padre José Ernanne Pinheiro, assessor da presidência da CNBB para o Setor de Leigos e para a área política.
Isso não significa que os textos menos moderados não vão chegar aos fiéis.
Cada bispo tem autonomia em sua diocese. O bispo de Rio Branco (AC), d. Moacyr Grechi, por exemplo, disse que pretende usar a cartilha como texto de apoio em discussões com fiéis.
A cartilha "Eleições em 94: voto responsável" diz que há três propostas principais à disposição dos eleitores: a neoliberal (que corresponderia às recomendações do FMI e do Banco Mundial), o capitalismo organizado (que priorizaria a concentração de capital) e a democrática popular (apontada como a que realiza uma redistribuição de renda e de riqueza).
O documento de Pinheiro, "Fazemos nosso o clamor dos pobres", critica as alianças feitas sem "metas bem definidas" e aponta como candidato ideal aquele que apresente caráter, carisma e competência.
Outros bispos que afirmaram ter intenção de utilizar a cartilha como base são o presidente da CNBB, d. Luciano Mendes de Almeida, arcebispo de Mariana (MG) e d. Angélico Sândalo Bernardino, bispo auxiliar de São Paulo (região de Brasilândia).
Almeida disse que gostou da cartilha e pretende usá-la em sua região.
Bernardino disse que não considerou a declaração oficial da CNBB muito moderada.
Tanto Grechi quanto Almeida e Bernardino pertencem à ala progressista.

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