São Paulo, domingo, 24 de abril de 1994
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Mandela é o símbolo da luta contra a segregação

CLÁUDIA PAS
DO BANCO DE DADOS

Mandela é o símbolo da luta contra a segregação
Nelson Rolihlahia Mandela, 75, é o favorito para vencer as eleições do próximo dia 27 de abril, e deve tornar-se o primeiro presidente negro na história da África do Sul.
Símbolo da luta dos negros sul-africanos contra o apartheid, regime de segregação racial instituído no país em 1948, ficou preso, incomunicável, por 27 anos.
Mandela nasceu na vila de Qunu (Transkei), em 19 de julho de 1918. Filho de Henry Gadla, chefe da tribo Thembu da etnia xhosa. Sua vocação para líder é atribuída à formação familiar. Foi criado para seguir os passos do pai.
Ao contrário do que previa a tradição, decidiu estudar. Abandonou sua província e foi viver em Alexandra, bairro negro no subúrbio de Johannesburgo.
Casou-se com Evelyn Mandela em 1944, com quem teve dois filhos e duas filhas. Formou-se advogado pela Universidade de Witwaterrand em 52, e montou um escritório de advocacia para negros.
É nesta época que entra para o Congresso Nacional Africano –movimento nacionalista de luta contra o apartheid.
Em 1960, aumenta a repressão contra o CNA, que nos últimos anos vira crescer sua importância política. O movimento liderava greves e manifestações de desobediência civil.
Neste ano, Mandela consegue autorização do líder do movimento, Albert Luthuli, para montar o que seria o braço armado do CNA.
Cria então o Umkhonto we Sizwe ("Lança da Nação"). Ainda em 60, o CNA seria banido e passaria à clandestinidade.
Apesar de ter autorizado a criação do grupo, Luthuli, prêmio Nobel da Paz de 1960 e presidente do CNA de 1952 a 1967, nunca defendeu o uso das armas.
Mandela acreditava na luta armada. Declarava lutar pela liberdade dos negros sul-africanos.
Dentro do movimento, era acusado de ter atitudes contraditórias. Costumava se reunir com seus amigos brancos e asiáticos. Ele dizia: "Não sou inimigo dos brancos, mas de suas leis injustas".
Mandela foi preso em 5 de agosto de 1962 e condenado à prisão perpétua por sabotagem contra o governo, em 12 de junho de 1964.
Quando foi preso, em 62, Mandela estava casado pela segunda vez com a militante Winnie Madikizela, que conheceu nas reuniões do CNA, em 1956, quando ainda vivia com Evelyn. Casaram-se em 1958 e tiveram duas filhas.
Incomunicável durante 27 anos, Mandela deve a Winnie o início do movimento de luta por sua libertação. Não assistiu ao processo de mitificação de seu nome.
Winnie Mandela sofreu inúmeras represálias. Foi presa, ameaçada e banida. Foi processada por envolvimento em atos radicais.
No final da década de 80, Nelson Mandela era o preso político mais famoso do CADERNO ESPECIAL. Na época, uma foto sua, recente, chegou a ser cotada a US$ 300 mil.
O Conselho de Segurança da ONU exigia, através de sanções econômicas, o fim do apartheid. A sociedade branca sul-africana parecia cansada do banimento imposto pela comunidade internacional.
Em 14 de setembro de 1989, assume a Presidência Frederik W. de Klerk. Herdeiro de fundadores do Partido Nacional, ele inicia reformas no regime político.
No dia 2 de fevereiro de 1990 legaliza o CNA. No dia 11, anuncia a libertação de Mandela.
Livre, ele inicia negociações por reformas políticas. Separa-se de Winnie em abril de 1992, após 33 anos de casamento.
Recebeu o prêmio Nobel da Paz, juntamente com o presidente Frederik de Klerk, no dia 15 de outubro de 1993.

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