São Paulo, domingo, 24 de abril de 1994
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Geração troca ensino pela luta contra a segregação

CLÓVIS ROSSI
DO ENVIADO ESPECIAL

Geração troca ensino pela luta contra a segregação
Soweto, junho de 1976. Estudantes negros iniciam uma série de manifestações de protesto contra a obrigatoriedade do ensino em africâner, língua dos brancos sul-africanos. Morrem pelo menos 600.
Soweto, abril de 1994. Fourgraves Sethesedi, diretor da escola primária W.P. Maponyane, mostra orgulhoso uma de suas classes e pede que a meninada cante um hino religioso. Eles cantam em bom inglês.
Mas, na lousa, a aula (de religião) está anotada também em tswana, um dos 11 idiomas oficiais da nova África do Sul.
Já não se morre em massa em Soweto, o grande subúrbio de Johannesburgo habitado por negros e que ficou famoso por causa dos protestos de 1976 contra o regime de segregação racial.
Mas, nesses 18 anos transcorridos, toda uma geração foi perdida.
Os jovens trocaram a escola pela militância anti-apartheid e ficaram desequipados para concorrer em pé de igualdade no mercado de trabalho.
"Os jovens até 18 anos, que são uma parcela substancial da população negra, não têm noção alguma de como viver em paz", queixa-se a professora Jeanette Kuper.
Reforça o jornalista Barry Cohen: "Os jovens da geração perdida criaram uma cultura de alienação e intolerância que pode ser mais destrutiva do que a que se viu em Beirute (Líbano), Belfast (Irlanda do Norte) ou na faixa de Gaza (território árabe ocupado por Israel)".
Para as crianças que hoje estão entrando na escola, no entanto, talvez as perspectivas não sejam tão tremendas.
Um estudo realizado pelo Banco Mundial demonstra que basta elevar o preparo de 1% dos negros, anualmente, ao nível dos brancos para que o emprego deles cresça 1,5 ponto percentual.
Só esse tipo de investimento evitará que as crianças da escola W.P. Maponyane troquem seus cânticos religosos pelos gritos de guerra de seus antecessores em Soweto.(CR)

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