São Paulo, domingo, 24 de abril de 1994
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Principal problema do governo será o desemprego entre negros

CLÓVIS ROSSI
DO ENVIADO ESPECIAL

Principal problema do governo será o desemprego entre negros
Taxa atinge 24,7% da força de trabalho negra; renda per capita cai 16% entre 1981 e 1991
Em praticamente cada rua de Johannesburgo, a capital econômica sul-africana, o que mais chama a atenção é o grande número de negros parados nas esquinas ou encostados aos muros, horas a fio.
É consequência direta do mais grave problema que afeta a economia do país: dos 10,5 milhões de negros que compõem a força de trabalho, 2,6 milhões (ou 24,7%) não têm emprego.
Outros 3,2 milhões (o equivalente a 30,4%) vivem da economia informal ou da agricultura de subsistência.
O elevado desemprego entre os negros tem um componente estrutural, o apartheid. Mas a ele acrescentou-se a partir dos anos 80 o fenômeno mais cíclico da recessão, que fez estragos até entre brancos.
Entre 1981 e 1991, a renda per capita caiu de 3.905 rands para 3.275 rands (US$ 1.115 e US$ 935, respectivamente). Ou seja, cada sul-africano, em tese, ficou 16% mais pobre nesse período.
Na prática, os negros sofreram mais, dada a abismal diferença de renda existente entre eles e os brancos.
O Congresso Nacional Africano (CNA), provável ganhador das eleições, erigiu o desemprego como prioridade um.
Até seus pôsteres de campanha dizem: "Vote por empregos, paz e liberdade", nessa ordem.
Em termos práticos, promete um programa de obras públicas capaz de gerar 2,5 milhões de empregos nos próximos dez anos.
É viável?
A resposta é um pouco mais complexa do que um mero sim ou não. "A menos que a taxa de crescimento econômico suba para um nível bem superior ao da última década, há pouca perspectiva de se reduzir o atual alto nível de desemprego ou de se gerar os recursos necessários para atender às necessidades sociais de uma forma sustentada", diz relatório do FMI (Fundo Monetário Internacional).
A taxa de crescimento necessária é de 3,5% do PIB (Produto Interno Bruto, a medida da renda nacional).
Para se chegar a ela, os investimentos precisam atingir a altura de 27% do PIB, quando foram, em 1992, de apenas 19%.
A questão é saber se os investimentos serão ou não feitos, o que depende muito mais de fatores políticos do que econômicos.
Há sinais positivos: a confiança do empresariado do setor industrial atingiu, no primeiro trimestre de 94, o seu nível mais alto desde 89, mostra levantamento do Escritório de Pesquisa Econômica da Universidade Stellenbosch.
Também do exterior vem oxigênio: desde 1989, 150 companhias estrangeiras estabeleceram-se na África do Sul e muitas outras estão na fila de entrada.
Para que esses sinais, ainda tímidos, se transformem nos indispensáveis investimentos, é essencial que o país consiga, na democracia, a estabilidade política perdida com o apartheid.
Para isso, é preciso que se cumpra a seguinte equação: "O CNA aceita agora que não pode cumprir sua agenda social a menos que a comunidade de negócios prospere.", diz Johann Rupert, presidente do grupo Rembrandt, um dos seis que controlam a economia do país. Os outros são: Anglo, Sanlam, Old Mutual, Anglovaal e Liberty Life. Segundo Rupert, "a comunidade de negócios compreende que não pode prosperar a menos que a agenda social seja cumprida".(CR)

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