São Paulo, domingo, 24 de abril de 1994
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Há que aguardar

MARCOS CINTRA

A cada dia surgem novos sinais de alerta acerca do andamento do plano de estabilização. Não se trata de alarmismo, mas se acumulam evidências de que o governo não está executando sua estratégia de combate à inflação como anunciou.
Na semana passada, apontamos as dificuldades do governo para conter o déficit público. No conceito de caixa há desequilíbrio. E nada indica que a situação vá melhorar.
No tocante às reformas estruturais, sem as quais o controle orçamentário não será concretizado de forma permanente, também não há razões para otimismo, dado o fracasso da revisão constitucional.
Agora, começam a pipocar preocupações sobe o processo de conversão de preços à URV.
A idéia da URV é uma só: inercializar a inflação. Isto é, fazer com que todos os setores reajustem seus preços com a mesma periodicidade e seguindo um indexador único, tornando a inflação neutra do ponto de vista distributivo.
Se isto ocorrer, a inflação fica estável e a dispersão dos aumentos de preços setoriais em torno da taxa de inflação seria minimizada. A criação do real poderia ocorrer com menor risco de inflação na nova moeda.
As evidências mostram que estas duas condições estão longe de serem atendidas.
A inflação não dá mostras de estabilidade. Todos os índices de preços apontaram significativa aceleração em março.
O IGP-M saltou de 40,48% em fevereiro para 45,71%. O IPC da Fipe saiu de 38,19% e cravou 41,94%. O ICV do Dieese foi de 40,10% para 45,5%. E o IPCA do IBGE disparou de 39,7% para 43,63%.
Em abril, o índice da Fipe poderá atingir 45%, com a tendência de alta. Por outro lado, os índices da FGV e IBGE mostram tendência de queda.
O ideal seria que os índices de preço se estabilizassem. Contudo, em abril, alguns sobem e outros caem. Isto indica que os preços relativos estão desalinhados e o conflito distributivo ainda não foi resolvido.
Em resumo, as condições não são propícias para a troca da moeda. Apressá-la poderá causar o rápido surgimento de inflação no real, desacreditando por completo o plano.

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