São Paulo, domingo, 24 de abril de 1994
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Qualidade dá voz a trabalhadores

DENISE CHRISPIM MARIN; ANA ASTIZ
DA REPORTAGEM LOCAL

Não é difícil encontrar um operário aposentado que jamais deu uma sugestão para melhorar suas condições de trabalho e o produto final. Mas hoje, as empresas que aderiram ao conceito de qualidade total decretam que não vão mais "fabricar" profissionais sem voz.
A qualidade muda drasticamente o dia-a-dia e o enfoque das empresas. A satisfação dos clientes passa a ser a meta principal. Para atingi-la, a participação dos funcionários torna-se imprescindível.
"Quando a empresa dá voz aos funcionários os resultados são surpreendentes", afirma Mário Celso Lopes, 43, gerente da Biogalênica, divisão farmacêutica da Ciba com 150 funcionários.
Em um ambiente que privilegia a qualidade, cada um se preocupa pessoalmente com a melhoria dos processos de trabalho, do preenchimento de um formulário à manutenção de uma máquina.
Torna-se presente o conceito de que, em princípio, tudo pode ser aperfeiçoado em uma atividade. E quem pode determinar quais pontos precisam ser alterados é a própria equipe de trabalho.
A Biogalênica investe em qualidade há dez anos. Tem conseguido, com as sugestões de operários, solucionar problemas que quebravam a cabeça dos técnicos. Nos últimos três anos, as idéias dos funcionários geraram uma economia de US$ 300 mil.
Um dos problemas era o excesso de poeira na área de embalagens. Isso obrigava os operários a vestir o dobro de roupas de proteção. A qualidade dos frascos também ficava prejudicada.
"Avaliamos a matéria-prima e os métodos de trabalho e concluímos que era preciso criar um sistema de aspiração", conta Teresa Cristina Costa, 33, líder de operação há 15 anos na empresa.
O produto finalmente atingiu o padrão esperado e os funcionários se livraram da pesada proteção.
Outro exemplo de funcionários envolvidos com a qualidade acontece na Federal Express, transportadora de encomendas expressas. Um grupo decidiu estudar formas de eliminar erros no preenchimento dos formulários das cargas.
Um único erro no formulário acabava gerando problemas em outros departamentos, queixas de clientes e prejuízos para todos. O projeto, batizado de "Zero Erro", motivou as equipes, reduziu os erros, distribuiu prêmios e permitiu economia de US$ 15 mil por ano.
André de Campos Jorge, courier (funcionário que recolhe e entrega encomendas) e líder da iniciativa, viajou à matriz nos EUA para explicar o projeto a 152 executivos da FedEx de diversos países.
"Quando um simples courier chega a esse nível quer dizer que o resto da empresa já está comprometido com a qualidade", explica Jorge. "Tudo o que fazemos é reconhecido", completa Robson Chagas da Silva, courier no Rio.
Ele leva na lapela do terno um broche, símbolo do prêmio que recebeu por ter conseguido embarcar uma carga em um dia de blecaute na cidade.
Às vezes, Jorge e Silva são até considerados"chatos da qualidade" pelos amigos, tal o comprometimento dos dois com esse conceito. Eles se defendem. "É uma obrigação ir atrás, orientar e conscientizar os outros", diz Silva.

Colaborou Ana Astiz

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