São Paulo, domingo, 24 de abril de 1994
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O BRASIL NAS RUAS

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

A derrota da emenda constitucional Dante de Oliveira completa amanhã dez anos. A emenda restabeleceria a eleição direta para a escolha do presidente da República.
A campanha pelas diretas-já foi a maior demonstração da vontade coletiva na história republicana. Entre janeiro e abril de 1984, comitês suprapartidários espalhados pelo país promoveram, em nome da sociedade civil, centenas de comícios e atos públicos.
Mas essa demonstração de força, que teria mobilizado quase 6 milhões de pessoas, não foi suficiente para mudar as regras da sucessão presidencial.
A emenda Dante não chegou a ser votada pelo Senado. Caiu na Câmara ao receber 298 votos -22 a menos que o necessário para atingir a maioria de dois terços.
O país era governado pelo quinto e último presidente do ciclo militar, João Baptista Figueiredo (1979-1985).
A "abertura gradual", planejada por seu antecessor, Ernesto Geisel (1974-1979), já havia se esgotado como fórmula capaz de assegurar a redemocratização.
O regime, a rigor, já tinha pouco a ver com o perfil ditatorial que assumiu no período Emilio Garrastazu Medici (1969-1974).
Não mais se torturava militantes da esquerda, o governo não mais cassava titulares de mandatos eletivos e a Lei da Anistia (1979) permitira a volta e a reintegração dos exilados políticos. Mas isso não bastava.
No início de 1984, o PDS, partido oficial, dispunha da maioria para eleger por via indireta o novo presidente.
A sociedade resistia ao adiamento do fim da transição para a democracia. Pesquisas demonstravam que a rejeição da eleição indireta criaria um problema crônico de legitimidade para um governista que fosse eventualmente eleito. A sociedade estaria de um lado e o eventual presidente do outro.
Os candidatos mais fortes do PDS eram o deputado federal Paulo Maluf (SP) e o ministro do Interior, coronel da reserva Mario Andreazza (1918-1988).
Mas nove meses depois da derrota das diretas, em 15 de janeiro de 1985, o Colégio Eleitoral se reuniu e elegeu para a Presidência Tancredo Neves, um moderado do PMDB.
A campanha pelas diretas-já acabou fortalecendo a corrente "realista" da oposição, que utilizou, em suas negociações de bastidor, o capital que a sociedade civil lhe dera nas praças públicas.

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