São Paulo, domingo, 24 de abril de 1994
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Futebol põe tese em xeque

O

MARCELO DAMATO
DA REPORTAGEM LOCAL

O Futebol põe tese em xeque
O resultado obtido pelo pesquisador holândes Ad Dudink é extramamente curioso, mas suas conclusões mostram falta de conhecimento do mundo esportivo.
A conclusão a que ele chegou, de que o sucesso esportivo de uma pessoa está fortemente ligado ao tempo entre o início da temporada (janeiro, no Brasil) e o seu mês de nascimento, é consequência de uma visão rígida da da evolução esportiva de um jogador.
Um corolário da sua tese é que todos os jogadores atuam em uma categoria "acima" de sua faixa etária estão condenados ao fracasso. No Brasil, esses casos não são raros. Eles enfrentam jogadores que são vários anos mais velhos e muitas vezes se dão bem.
Um desses casos foi o de Pelé, o maior jogador de todos os tempos. Começou no Santos com 15 anos, estreou na seleção com 16 e foi campeão mundial com 17. Além do mais, nasceu em 23 de outubro, fim da temorada brasileira.
A explicação de que a diferença etária tem como pano de fundo uma diferença de evolução física também não encontra sustentação no futebol brasileiro.
O país está cheio de jogadores fracos fisicamente que fazem sucesso. Romário e Bebeto, a dupla de ataque da seleção, são exemplos. Ambos sempre foram considerados franzinos, mesmo quando adolescentes.
Outra questão que o pesquisador deixa de lado é a estrutura das categorias de formação. O primeiro ponto é que elas variam de um país para o outro e dentro de um mesmo país, ao longo do tempo.
Hoje no Brasil existem quatro categorias amadoras dente-de-leite (menos de 14 anos), infantil (16), juvenil (18) e júnior (21).
Em categorias com um intervalo de dois anos, percebe-se que a influência da idade não é fundamental. Se fosse o caso, em todos os anos mudaria a maioria dos titulares, para dar vaga aos mais velhos do grupo.
Isso não acontece. O time de juniores do São Paulo chegou às três últimas finais da Copa São Paulo com quase a mesma equipe.
Outra questão importante no Brasil é que muitos jogadores só se integram a clubes quando já têm 17, 18 anos. O zagueiro Baggio, revelação da última Copa São Paulo de Juniores, chegou ao Juventude (RS) há menos de dois anos. Antes, ajudava o pai na lavoura, no interior do Rio Grande do Sul.
A distância entre os dados colhidos mostra a distância que separa dois denômenos correlacionados de dois que mantêm relação de causa e efeito entre si.
Fenômenos correlacionados são aqueles que variam juntos. Por exemplo, na primavera, o aumento da temperatura média do dia acompanha o crescimento da grama de um jardim.
A correlação entre os fenômenos é forte. A relação causal entre eles, nenhuma.
Esta é uma das maiores limitações de pesquisas que exigem estudos de população. Por trás de um estudo assim, está uma ação indutiva. A partir de uma coleção de dados individuais, busca-se uma regra geral.
Para chegar a uma "lei", através da indução, é preciso tomar uma série de cuidados. Um deles é testar bem a hipótese.

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