São Paulo, domingo, 24 de abril de 1994
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O aniversário faz o craque

HELIO GUROVITZ
DA REPORTAGEM LOCAL

Jogador de futebol brasileiro que nasceu no começo do ano tem mais chance de sucesso. Astrologia? Não é o que pensa o psícologo holandês Ad Dudink .
O pesqueisador da Universidade de Amsterdã, ele mesmo um ex-futebolista, levantou a data do nascimento de jogadores de futebol holandeses e britânicos.
Em carta à revista científica "Nature", Dudink relaciona o fato ao início da carreira dos esportistas.
"Se você começa cedo e é o mais velho no grupo, tem mais chance de ser bem-sucedido, disse o holandês à Folha em entrevista por telefone.
Trocando em miúdos: quem faz aniversário no final da temporada joga com pessoas quase um ano mais velhas nas divisões iniciais (dente-de-leite, infantil, juvenil e júnior, no Brasil).
Para Dudink, isso pode exercer uma pressão psicológica negativa na cabeça do futuro craque.
Segundo o psicólogo, o mais novo é fisicamente mais fraco e tende a fazer uma imagem ruim de si mesmo.
"Quem é mais velho no grupo sempre tem alguém mais fraco a quem se possa comparar", disse.
A temporada esportiva européia começa entre agosto e setembro.
Entre dezembro e fevereiro, nasceram 696 (25%). Entre março e maio, 545 (19%). Apenas 516 (18%) eram nascidos entre junho e agosto.
A Folha fez levantamento semelhante ao do holandês (embora sem o mesmo rigor) e verificou que também no Brasil pode valer a estatística (veja grafico ao lado).
Com aniversário em outubro e dezembro, só há 119 jogadores (18,5%).
Entre cincos atacantes brasileiros que podem jogar na Copa do mundo, quatro nasceram no ínicio do ano, conforme prevê Dudink.
O jogador Denner, morto em acidente de carro na terça-feira passada, havia completado 23 anos no dia 2 deste mês.
O atacante do Vasco era outro exemplo favorável à teoria do holandês.
Mas não faltam exeções nem críticas à tese do psicólogo.
Entre os casos atípicos estão ninguém menos que Pelé (nascido em 23 de outubro de 1940) e Maradona (que nasceu em 30 de outubro de 1960).
"Como o jogador europeu talves não tenha tanto talento quanto o sul-americano, aq influência do aspecto físico deve ser maior lá", diz Turíbio Leite de Barros, da Escola Paulista de Medicina.
"No Brasil, o garoto faz prevalecer a técnica sobre o desenvolvimento físico", diz o fisiologista.
Barros trabalha no São Paulo em todas as categorias, do dente-de-leite ao profissional.
"A gente está cansado de ver jogador franzino passar por cima do mais forte", diz.
Segundo ele, em cada categoria há no mínimo dois anos para o iniciante mostrar qualidade.
No dente-de-leite joga quem tem menos de 14 anos. No infantil, quem tem menos de 16 . No juvenil menos de 18. E no júnior, menos de 21.
"Quem nasce em dezembro e é mais fraco em um ano, acaba jogando com gente mais fraca no ano seguinte", diz Barros.
Mas o cientista holandês, que nasceu em novembro, considera o sistema atual uma injustiça com quem nasce longe do ínicio da temporada .
Ele propõe que a classificação dos jogadores por idades seja alterada, embora não saiba como.
"É preciso fazer mais pesquisas para ter melhores respostas", disse o holandês.
Por enquanto, Dudink só garante que vai torcer pelo Brasil na Copa do Mundo.

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