São Paulo, domingo, 24 de abril de 1994 |
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FHC e Ulysses temiam que fracasso fortalecesse Maluf
JOÃO BATISTA NATALI
Plano pró-diretas de Montoro foi recebido com frieza pelo PMDB A campanha das diretas é o mais estimado dos rebentos da história da cidadania brasileira. Normal, portanto, que ela seja cortejada pela reivindicação de muitas paternidades. Eleger o presidente pelo sufrágio universal é de início uma maneira de marcar posição contra o autoritarismo. Em 1974, o então partido da oposição consentida, o MDB (Movimento Democrático Brasileiro), já se exprime nesse sentido e, em 1979, as diretas estão no manifesto de criação do PT. Luiz Inácio Lula da Silva ganha, com a campanha, a dimensão de uma das lideranças políticas nacionais. Ele é, até então, um respeitado ex-sindicalista, presidente de um partido com apenas oito deputados na Câmara e ex-candidato (derrotado em 1982) ao governo de São Paulo. Coube aos petistas o primeiro comício de verdade, em novembro de 1983. Mas as diretas se misturam, naquele ato público, com o protesto contra o embargo norte-americano a Cuba e contra as pressões de Washington sobre o regime sandinista da Nicarágua. Entre os dirigentes do establishment peemedebista, no entanto, a idéia já corria havia alguns meses. Em 15 de outubro daquele ano, reunidos em Foz do iguaçu (PR), oito governadores do PMDB divulgam documento em que exortavam o Congresso a "votar emenda à Constituição, estabelecendo eleições diretas ainda para a substituição do atual presidente". O encontro dos governadores, para não assustar os militares e "não parecer conspiração", conforme Tancredo Neves (MG) e José Richa (PR), ocorre por detrás do biombo de uma reunião de secretários da Fazenda, convocados para discutir questões econômicas. O mérito do encontro é o de engavetar a tese de uma "candidatura consensual" para a sucessão de Figueiredo. A tese foi discretamente evocada em nome da governabilidade e em razão das divisões na base civil de sustentação do regime militar. Paulo Maluf e Mario Andreazza, candidatos indiretos, operavam um leilão de promessas e era presumível que não se reconciliassem na reta final do Colégio Eleitoral. Outro motivo era o estilo de Maluf, que assustava a oposição moderada, partidária, na pior das hipóteses, de um interlocutor no governo que concluísse a estafante redemocratização. Com o documento de Foz do Iguaçu, as diretas saem da gaveta, mas entram em banho-maria. Esperariam que, pouco antes do Natal de 1983, reunião de intelectuais na casa do advogado Miguel Lins, no Rio, articulada pelo historiador José Honório Rodrigues e pelo filólogo Antonio Houaiss. O principal convidado daquela noite foi o governador paulista, André Franco Montoro (1983- 1986). A certa altura, enfadado com o discurso do governador sobre as maravilhas do governo descentralizado e participativo, o escritor Otto Lara Rezende, ao fundo da sala, dá um aparte provocativo: "Farol alto, Montoro!" Propõe que, com o peso de São Paulo, ele ponha a campanha das diretas nas ruas. O governador se entusiasma. Convoca seu secretariado e marca o primeiro ato público para 25 de janeiro, na praça da Sé. No PMDB, o plano é recebido com frieza. O presidente regional do partido, Fernando Henrique Cardoso, e o presidente nacional, Ulysses Guimarães, temem que o fracasso se torne um trunfo para Maluf no Colégio Eleitoral. No PDT, o governador Leonel Brizola (RJ) entra na campanha tardiamente e ao fim dela demonstra pouco entusiasmo. Sabe que, saindo as diretas, seu plano de chegar à Presidência será atropelado pela concorrência do PMDB. Chega a propor a prorrogação do mandato de Figueiredo. Coube a Brizola, no entanto, a organização e o sucesso, a 10 de abril de 1984, do comício da Candelária.(João Batista Natali) Texto Anterior: PERSONAGENS Próximo Texto: PMDB gastou US$ 600 mil Índice |
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