São Paulo, segunda-feira, 25 de abril de 1994
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País tem de perder complexode inferioridade no exterior

ANTONIO CARLOS SEIDL
DA REPORTAGEM LOCAL

País tem de perder complexo de inferioridade no exterior
Consultor diz que empresas brasileiras precisam ser mais audaciosas
Os pequenos e médios empresários brasileiros têm de perder o complexo de inferioridade nas negociações para a compra de tecnologia no exterior.
Esta mensagem foi transmitida por Bernard Friedlander, consultor das Nações Unidas, a empresários brasileiros.
"Ao comprar tecnologia, lembre-se de que você é um cliente em um mercado competitivo: decida o que você quer, exija a melhor tecnologia e o melhor preço", disse Friedlander aos empresários.
A ocasião foi o laçamento no IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas), em São Paulo, na semana passada, de um programa de treinamento em negociações de transferência de tecnologia.
É o resultado de um acordo de cooperação entre a Unido (Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial) e a Finep (Financiadora de Estudos e Projetos), do governo brasileiro.
O treinamento é baseado no documento "Manual para negociações de transferência de tecnologia", da Unido.
O objetivo é ensinar empresários brasileiros a obterem melhores condições na aquisição da última palavra em tecnologia industrial no mercado mundial.
A iniciativa da Unido em cooperação com a Finep planeja treinar cerca de 500 empresas brasileiras em transferência e compra de tecnologia até o final de 1995.
Em entrevista à Folha , Bernard Friedlander falou sobre a importância do treinamento em transferência de tecnologia na economia globalizada dos anos 90.

Folha - Por que a Unido está trazendo seu curso de treinamento em transferência de tecnologia para o Brasil?
Bernard Friedlander - A Unido trabalha neste programa há dez anos. Ele agora torna-se muito importante para o Brasil por causa da abertura às importações, o que aumenta a concorrência entre as empresas nacionais e estrangeiras no Brasil.
As empresas brasileiras não podem se dar ao luxo de usar tecnologia obsoleta em um mercado aberto às importações.
Os produtos importados usam tecnologia mais nova e economicamente mais eficiente.
Folha - Quais são as principais dificuldades que as empresas brasileiras estão enfrentando para comprar tecnologia?
Friedlander - Com a diminuição do controle que o INPI (Instituto Nacional da Propriedade Industrial) tinha sobre os contratos de transferência de tecnologia, as empresas e institutos de pesquisas brasileiros têm agora que cuidar de melhorar sua capacitação na negociação, transferência e contratação de tecnologia.
Diante disso e da abertura comerical, é preciso aprender a negociar para evitar dissabores em um mercado muito competitivo.
Nesse mercado, há uma tendência das empresas dos países em desenvolvimento, principalmente as brasileiras, de se comportarem com um complexo de inferioridade nas negociações.
Folha - Como isso acontece?
Friedlander - As empresas brasileiras não agem como compradoras. Elas olham as multinacionais e os vendedores de tecnologia de baixo para cima. Não usam a força que têm como clientes.
Os negociadores brasileiros têm que levar em conta que sempre há uma alternativa à mesma tecnologia, ou melhor, ao mesmo preço, ou em melhores condições de pagamento.
Em um mercado onde os fornecedores de tecnologia enfrentam forte competição uns dos outros, o comprador brasileiro não pode jamais de esquecer de que o cliente tem sempre razão.
Se não fizerem isso, as empresas brasileiras vão pagar mais caro pela tecnologia e podem acabar tendo, sem perceber, restrições incluídas nos contratos.
Elas têm que superar o complexo de inferioridade.
O treinamento da Unido aprimora o conhecimento técnico dos compradores de tecnolgia. A experiência virá com o tempo.

PARA SABER MAIS
Na sede da Unido no Brasil: SCN Quadra 2, Lote B, Brasília 70710-500, telefone 061-223-8101.

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