São Paulo, segunda-feira, 25 de abril de 1994
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O mergulho

CIDA SANTOS

Subir no degrau mais alto do pódio, levantar o troféu, ser campeão. Em quatro meses, a seleção brasileira feminina viveu por duas vezes essa cena. Venceu dois torneios internacionais, façanha que nunca tinha conseguido realizar em sua história. As conquistas do time se resumiam a títulos sul-americanos. O técnico Bernardinho diz que a seleção está aprendendo a ganhar. E eu digo mais: a seleção está descobrindo que pode ganhar.
Vamos voltar um pouco no tempo: dia 12 de abril, o Brasil perde por 3 sets a 1 da China na sua estréia na BCV Cup. Resultado normal: afinal a China estava com seu supertime completo. Mesmo assim, ainda no ginásio, Bernardinho reúne a equipe e tenta inverter a lógica. Diz que gostaria que as jogadoras voltassem a enfrentar as chinesas. Como as duas seleções estavam na mesma chave, a única possibilidade de novo confronto seria na final do torneio. E para desafiar suas atletas e também mostrar o que é capaz de fazer pelo time, o técnico vai além. Promete até mergulhar em um lago próximo ao ginásio caso a seleção vença. Nada demais se o país não fosse a Suíça e o clima frio total.
Cinco dias depois, lá estava a seleção classificada para a final. Tinha vencido a Suíça, o Japão e os Estados Unidos. A situação era totalmente nova: decidir um título com a China. Era tentar superar a velocidade, a técnica requintada e toda uma tradição de vitórias do adversário. Haja frio na espinha. Antes de entrarem na quadra, as jogadoras ouviram de Bernardinho o seguinte recado: "Nós estamos no lugar onde queríamos estar, disputando uma medalha de ouro. Não tem sentido ter medo nesse momento. É hora de mostrar alegria e prazer por estar aqui."
O Brasil jogou como nunca. O saque foi perfeito. A recepção das chinesas, que em todo torneio esteve por volta de 90% de aproveitamento, caiu para 60%. Depois de vencer os dois primeiros sets e perder o terceiro, um instante dramático. No quarto set, placar de 13/12 para a China. Era a velha sina de derrotas ou o prazer da vitória. Como diz a atacante Ana Mozer, eleita não por acaso a melhor jogadora do torneio, existe uma época que não se aprende mais com as derrotas. Precisa-se colocar em prática o que as derrotas ensinaram. Aí começa um outro estágio. Pois é. O Brasil ganhou o jogo e Bernardinho mergulhou no lago.

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