São Paulo, segunda-feira, 25 de abril de 1994
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Teens da África do Sul votam para presidente na primeira eleição multirracial

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DANIELA ROCHA
A África do Sul dá início amanhã a um momento histórico. Até o dia 28 de abril o país realizará pela primeira vez eleições multirraciais (com votos de brancos, negros, indianos e mestiços).
Os teens a partir de 18 anos votam. Mas não é em todas as regiões do país que eles têm discutido ou se interessado pelo assunto (leia textos abaixo).
A garotada da província de Natal está acompanhando mais de perto do que acontece. É lá que protestos e mortes vêm ocorrendo com frequência.
Por isso o país aposta tudo nas eleições, em busca de uma solução para seus problemas.
E problemas não faltam. Após mais de 40 anos de apartheid (regime de segregação racial), existem conflitos não só entre brancos e negros, mas também – e principalmente – entre diferentes grupos étnicos denegros (leia texto abaixo).
Os principais grupos negros são os zulus e os xhosas (pronuncia-se cósas). Uma parte dos zulus tem como rei Mangosuthu Buthelezi, que aceitou participar das eleições na última terça-feira. Ele pertence ao Partido da Liberdade Inkatha.
Outros candidatos são o líder do Congresso Nacional Africano (CNA). Nelson Mandela (considerado o favorito para a Presidência), e o atual presidente, Frederik, 57, africâner (descendente de holandeses), dividiram o Prêmio Nobel da Paz de 1993.
Ele inciaram o acordo pelo fim do apartheid e por um África do Sul democrática.
De Klerk assumiu a presidência em 1989, quando o país sofria pressões da comunidade internacional pelo fim do apartheid.
Em 1990, ele se libertou Nelson Mandela, após 27 anos de prisão, e revogou a proibição do CNA.
Em 1991 toda a legislação discriminatória foi banida.
Hoje o país ainda vive crises em consequências da má administração do período pós-apartheid.
Com o fim das "Leis das Áreas de Grupo", que estipulavam onde cada pessoa deveria morar, metrópoles como Cidade do Cabo, Durban e Johannesburgo ficaram superpopulosas. A Cidade do Cabo tem hoje seus subúrbios ocupados por favelas, que são, todavia, vigiadas pela polícia – que fica estrategicamente em guaritas sobre torres.
A falta de emprego gerou miséria e aumento do índice de criminalidade. Johannesburgo tem centenas de camelôs espalhados pelas ruas do centro.
Se para alguns o padrão de vida caiu, para outros melhorou.
Diretor de uma fábrica de relógios em Durban, o indiano Khalil Mahomed, 33, dizia enquanto caminhava em North Beach (praia de Durban): "É incrível pensar que há quatro anos indianos e negros não podiam sequer caminhar nesta praia".
Até 1990 apenas brancos tinham o direito de comprar terrenos e construir à beira-mar.
Mahomed votará em Nelson Mandela. "Acredito que Mandela é o candidato com condições de mudar a situação para a maioria antes discriminada", disse.
"Se Mandela vencer, creio que o país passará por uma fase instável que é inevitável. Mas acho que em seis meses podemos atingir o equilíbrio."
A África do Sul tem atualmente um índice alarmante de analfabetismo: 50% da sua população.
No programa de governo proposto por Nelson Mandela, o item educação promete dez anos de estudos gratuitos para todas as crianças, escolas de alfabetização para adultos e currículo que inclui direitos humanos.
Já o Partido Nacional promete melhor qualidade de vida e o compromisso de extinguir definitivamente o apartheid. "As promessas do CNA não podem ser cumpridas", diz anúncio do partido Nacional em jornais do país.

LEIA MAIS
Sobre as eleições na África do Sul em Mundo.

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