São Paulo, segunda-feira, 25 de abril de 1994
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Duke Ellington chega em grande forma

RUY CASTRO

Vídeo de 58 minutos com imagens de apresentações do músico e sua orquestra no México chega ao Brasil

Vinte anos depois de sua morte, que se completam no próximo dia 24 de maio, Duke Ellington está mais vivo do que nunca. Sua orquestra toca melhor a cada dia (ouça qualquer um dos velhos discos, todos agora em CD) e suas composições estalam de riqueza, complexidade e beleza, exatamente como no momento em que saíram de seu piano.
Ellington era todo um universo e sua beleza era também visual. A prova está em "Memories of Duke", um vídeo de 85 minutos lançado aqui pela Warner, mostrando os pontos altos (completos) de dois concertos gravados no México em 1968, em Guadalajara e na Cidade do México.
Como era 1968, lá estavam os senadores vitalícios da orquestra: Johnny Hodges e Russel Procope aos saxes altos, Paul Gonsalves ao tenor, Harry Carney ao barítomo, Cootie Williams e Cat Anderson aos trompetes, Lawrence Brown ao trombone. Com esses pilares em cada departamento, Duke podia sentar-se ao piano e relaxar.
É emocionante ver em close rostos tão queridos e acompanhar o trabalho de seus lábios, bochechas e narinas produzindo eternidade. São perfis de pedra –alguns já grisalhos, mas tocando com o mesmo "blend" de ênfase e delicadeza que inseminou a orquestra nos inacreditáveis 47 anos (1927-1974) que ela durou.
O repertório é o clássico e seus solistas também: "Sophisticated Lady" (com Harry Carney), "Take the 'A' Train" (com Cootie Williams), "Mood Indigo" (com Russell Procopo), "I Got It Bad" (com Johnny Hodges), "The Mooche" (com Lawrence Brown) etc. Temas que você já ouviu mil vezes e, milagrosamente, tem sempre uma sensação de primeira vez.
Mas há uma novidade: a longa e linda "Mexican Suite", com Duke ao piano e a orquestra incorporando um balanço latino que sequer roça a caricatura. O homem era um gênio e suas "suítes" ainda não tiveram o devido reconhecimento. Ótimo. Haverá muitos Ellingtons a descobrir pelas próximas décadas.
A direção de Gary Keys às vezes abusa das viragens psicodélicas, uma das manias de 68. Mas o vídeo tem o que precisava ter: generosos "takes" de todo mundo, principalmente Duke. É evidente a sua satisfação de estar ali. As bolsas sobre os olhos (ele tinha então 69 anos) pregueiam-se em constantes olhares de aprovação e prazer pela maneira com que seus homens tocam sua música.
Duke Ellington tinha uma mulher diferente a cada noite, mas o grande público nunca soube disso. Nem precisava saber. Ele viveu cada minuto a favor da vida. Não se dissipou, não se matou, deu emprego a centenas de grandes músicos e produziu uma obra que ficará como um testemunho do século 20 –o qual, muito por sua causa, não foi tão mau assim.

Título: Memories of Duke
Artista: Duke Ellington e orquestra
Direção: Gary Keys
Produção: EUA, 1984 (gravado em 1968), 85 min.
Distribuição: Warner Music Vídeo

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