São Paulo, segunda-feira, 25 de abril de 1994 |
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Bomba mata 9 a dois dias da eleição na África do Sul
CLÓVIS ROSSI
A explosão ocorreu a apenas 21 horas de se encerrar oficialmente, às 7h de hoje, a primeira campanha eleitoral multirracial da África do Sul. A eleição que começa amanhã porá fim a 342 anos de dominação da maioria negra pela minoria branca. O local escolhido pelos terroristas não poderia ser mais estratégico: a no máximo uma quadra de distância, ficam o QG nacional e também o QG provincial do CNA (Congresso Nacional Africano), favorito para vencer as eleições. Mas outros pontos simbólicos estão igualmente próximos: a sede do Congresso Pan-Africano, cisão do CNA, um quartel da polícia e a sede de Johannesburgo das Forças de Defesa sul-africanas. "Estou convencido de que o atentado era contra o CNA. É um ataque muito sério e uma tentativa de matar um de nossos membros", disse Carl Niehaus, o porta-voz do CNA, aliás branco e louro. A tentativa de matar alguém do CNA deu certo: Susan Kriel, candidata à Assembléia provincial de Johannesburgo, passava de carro pelo local e foi morta. Os outros oito mortos eram pedestres. Mas o brigadeiro (da polícia) Gous Zirk, depois de apontar para todos os prédios oficiais e partidários no raio em que a explosão causou destruição, preferiu dizer que se tratava de um atentado "ao processo eleitoral" como um todo. A polícia não tinha informação alguma sobre os autores do atentado, a ponto de seu porta-voz, o coronel Steve Senekal, ter fornecido um número telefônico e pedido, no telejornal das 20h (15h em Brasília), qualquer informação que ajudasse na investigação. Mas Niehaus, do CNA, apontava o dedo para a extrema direita branca, que se opõe à eleição. "Deve-se levar a sério as ameaças da extrema direita. Eu não quero responsabilizar ninguém diretamente, mas o atentado só pode vir de quem quer impedir o processo eleitoral", disse. Só uma parte da extrema direita branca está contra a eleição, depois que o Partido da Liberdade Inkhata, representante de uma fatia da etnia zulu, decidiu terça-feira participar da eleição. Também David Welsh, professor de Política, culpou a extrema direita e ainda levantou a hipótese de novos atentados. "O que mais me aterroriza é a possibilidade de uma grande figura política ser assassinada", disse. Previsivelmente, dois portas-vozes da direita desmentiram qualquer envolvimento no atentado. Um é o coronel Constand Viljoen, da Frente da Liberdade, que participa do processo. O outro, que se opõe, é o líder neonazista Eugene TerreBlanche, do AWB (iniciais em africâner do Movimento de Resistência Africaner, os sul-africanos brancos). O AWB, nos dias anteriores, fizera inúmeras ameaças de usar a violência para perturbar o processo eleitoral e é igualmente suspeito de ter colocado uma bomba sábado em um oleoduto. Estresse Assumindo, indiretamente, que a responsabilidade é de algum grupo branco, o líder do CNA, Nelson Mandela, provável futuro presidente, fez apelo aos brancos em geral para que não temam o futuro. No seu último comício, Mandela garantiu que não haverá nem desordens nem saques de propriedades dos brancos após as eleições. "Reconhecemos o papel decisivo que podem desempenhar na construção da nova África do Sul", disse o virtual futuro presidente. É pouco provável, no entanto, que palavras sejam capazes de devolver a tranquilidade ao país. A África do Sul está tão à beira de um ataque de nervos que, só em uma das clínicas de Johannesburgo, o número de internações por estresse pulou de 64 para 86 por dia neste mês de abril. Nada mais natural, quando se sabe que a violência política e a criminalidade comum são devastadoras. Entre fevereiro de 1990, quando começou o diálogo para a democratização, e março de 1994 morreram 14.474 pessoas, uma a cada dois dias, em conflitos políticos. A violência comum é maior ainda: 16.067 mortes só em 1992. Uma bomba como a de ontem só pode aumentar o estresse. Texto Anterior: Uma coca-cola e, depois, a explosão Índice |
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