São Paulo, segunda-feira, 25 de abril de 1994
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Uma coca-cola e, depois, a explosão

CLÓVIS ROSSI
DO ENVIADO ESPECIAL A JOHANNESBURGO

Os dois policiais que ocupavam a patrulha amarela chapa BFX-390B pararam o carro na esquina da rua Bree com a Von Williegh, para comprar coca-cola no bar "La Maison de Quartier".
Não tiveram tempo. Exatamente às 9h50 de um domingo ensolarado, um Audi verde estacionado pouco antes na altura do número 280 da Bree transformou-se na mais potente bomba a explodir em Johannesburgo.
O Audi carregava ao menos cem quilos de explosivos, pelas contas do brigadeiro Gous Zirk, da polícia local.
Deixou impressionante rastro de destruição em três quarteirões ao redor do epicentro.
Abriu no asfalto um buraco de 1,5m de profundidade por 4m de raio, em frente a uma loja de bebidas.
A Bree e ruas adjacentes pareciam reprodução de Saravejo, a castigada capital bósnia: vidros espalhados por toda parte, um carro destruído e virado do avesso bem em frente ao local da explosão, inúmeros outros semidestruídos, um pequeno incêndio na loja de móveis em frente, água jorrando dos encanamentos estourados, pingos ou poças de sangue até a dois quarteirões de distância.
"Estou em estado de choque, nem sei o que dizer", resumia o sentimento dos feridos o jornalista inglês Simon Walker, do "Times" de Londres, um dos 92 feridos.
Uma testemunha que não se identificou disse ter visto de três a cinco homens, todos brancos, deixando o Audi antes da explosão. A polícia não confirmou a versão.
O horário escolhido para o atentado foi estratégico: dez minutos depois da explosão começaria na Shell House, QG nacional do CNA, a uma quadra, mais um curso de educação eleitoral.
Por isso, havia nas proximidades mais gente do que o habitual em um domingo.
A rua escolhida também é estratégica: fica no coração de Johannesburgo, cidade que responde por 35% de toda a economia sul-africana. Dá assim enorme visibilidade à ferida humana e urbana aberta pelo carro-bomba.
No total, 12 prédios sofreram danos consideráveis, mas o luminoso da casa de massagens "Paradise Island", na esquina oposta, continuava rodando, convidando à entrada, a 50 rands (US$ 14).
O Audi verde desintegrou-se na explosão. Pedaços eram recolhidos por um caminhão de lixo seis horas depois, quando a polícia já havia estendido cordões de arame farpado pela área.
No poste em frente ao 261 da rua Bree, um pôster do CNA parecia uma triste ironia: "Uma vida melhor para todos".
(CR)

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