São Paulo, segunda-feira, 25 de abril de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FHC e a fraude

JOSIAS DE SOUZA

BRASÍLIA – Conhecido nos corredores universitários, Fernando Henrique Cardoso nunca foi um campeão de popularidade. Há um ano, se andasse pelas ruas da sua São Paulo, precisaria de um colar de melancias para ser notado. Sem o adereço, não chamaria a atenção de uma mosca. Hoje, não dá um passo sem que políticos, empresários e intelectuais lhe façam uma festa.
Há poucos meses, nem o PSDB levava a candidatura de Fernando Henrique a sério. Em matéria de sucessão, o partido trabalhava com três outros nomes: Mario Covas, Tasso Jereissati e Ciro Gomes. Não se descartava sequer a hipótese de apoiar uma candidatura alheia: a de Lula, do PT, ou a de Antônio Britto, do PMDB, só recentemente descartada.
Do dia para a noite, descobriu-se em Fernando Henrique uma vocação presidencial voraz. Apresenta-se o ex-ministro como se tivesse emergido do ventre materno com a faixa presidencial grudada ao peito, como se, à primeira mamada, sua mãe tivesse sido assaltada pela sensação de que alimentava um presidente.
Pergunto a mim mesmo: o que fez Fernando Henrique para migrar da zona sombreada para a região banhada pelos holofotes? Nada. Isso mesmo, não fez coisa alguma. Ou, por outra, fez muito pouco, pouquíssimo. Diz-se que o plano econômico do ex-ministro o credencia para ser presidente. Como peça de publicidade, o plano é uma obra inacabada. Como plataforma política, é uma fraude.
O próprio Fernando Henrique dizia que o êxito de seu plano dependia de uma série de fatores, entre os quais estavam o controle de gastos públicos e a aprovação de um pacote de reformas constitucionais. Quanto aos gastos, pouco se fez. As mudanças na Constituição empolgam tanto quanto uma partida de futebol entre os desconhecidos times do Taguatinga e do Gama, ambos de Brasília.
Ainda assim, quando for lançada a nova moeda, o real, a inflação despencará. Em outubro, mês do primeiro turno das eleições, os índices inflacionários ainda estarão muito baixos. Aí começa a fraude. Passada a eleição, a volta da inflação é certa como o pôr-do-sol a cada final de tarde. O que faz de Fernando Henrique um candidato forte não são os seus méritos. O que o tonifica são os defeitos de Lula.

Texto Anterior: Jogo perigoso
Próximo Texto: Olhar de frente
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.