São Paulo, segunda-feira, 25 de abril de 1994
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Olhar de frente

Diante do notável crescimento de movimentos neonazistas em todo o mundo nos últimos anos, a condenação à prisão perpétua do criminoso de guerra francês Paul Touvier na semana passada é uma boa notícia e um excelente exemplo.
Touvier é também o primeiro francês a ter sido condenado por crimes contra a humanidade. Seu julgamento teve, assim, o mérito de abrir o debate acerca de um tema que sempre foi mais ou menos considerado um tabu na França, o do colaboracionismo. Ou seja, a ação daqueles franceses que, por simpatia ao regime nazista ou por simples interesse pessoal, ajudaram os alemães em sua odiosa tarefa de subjugar povos e tentar eliminar grupos étnicos que consideravam inferiores. E o número dos que de uma forma ou de outra agiram em favor do Reich é infelizmente bem maior do que o que a maioria dos franceses gostaria de admitir.
A melhor forma de perpetuar preconceitos e injustiças é simplesmente fingir que não existem. Nesse sentido, e por mais dolorido que seja, é bom que os franceses encarem de frente o seu passado e possam assim aprender as lições da história. O mesmo vale para muitos outros países em que o colaboracionismo foi ainda maior que o da França, como Áustria, Croácia e países bálticos. É bem verdade que muitos desses países viram na expansão da Alemanha nazista uma chance de livrar-se de outras nações ou impérios que os oprimiam; isso, entretanto, não justifica de forma alguma colaborar com uma das maiores excescências políticas que a humanidade jamais produziu.
Diferentemente do que ocorreu na Alemanha –excluída sua porção oriental–, esses países jamais passaram por um esforço de "desnazificação". Sua população não teve de olhar de frente as barbaridades cometidas para tirar as devidas lições e, de alguma forma, cuidar para que a sanha não se repita.

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