São Paulo, terça-feira, 26 de abril de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Real vai ter paridade fixa com o dólar

GUSTAVO PATÚ
SÔNIA MOSSRI

GUSTAVO PATÚ; SÔNIA MOSSRI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A futura moeda, o real, terá paridade fixa com o dólar. O governo quer que R$ 1 seja igual a US$ 1.
Os reais, contudo não poderão ser trocados livremente por dólares –como aconteceu no plano econômico argentino.
O governo vai congelar o valor do dólar por pelo menos três meses após a criação da nova moeda. Para isso, venderá suas reservas em dólar no mercado para evitar altas da moeda norte-americana.
Esse sistema, chamado câmbio fixo, está praticamente definido pela equipe econômica –é a forma encontrada para dar credibilidade ao real. A expectativa é obter até mesmo uma deflação (queda generalizada de preços) em real.
A livre conversibilidade do real em moeda estrangeira não é cogitada pela Fazenda devido à insuficiência de reservas cambiais e à fragilidade do ajuste fiscal obtido junto ao Congresso.
O câmbio fixo implica o risco de grandes gastos, ou "queima" das reservas cambiais do Brasil. Isso porque o BC será obrigado a vender dólares no mercado sempre que a cotação do dólar subir.
Segundo dados do Banco Central, a soma de todos os ativos financeiros em moeda nacional (em contas-correntes, aplicações financeiras e títulos públicos) atinge US$ 120 bilhões, enquanto as reservas somam US$ 36 bilhões.
A ausência de equilíbrio das contas públicas impede o governo de reduzir a dívida interna. Por isso, o Tesouro Nacional mantém um estoque de títulos em poder do mercado (US$ 50,57 bilhões).
Além disso, a saída do câmbio fixo poderia trazer nova pressão inflacionária, sobretudo às vésperas de uma eleição presidencial. Se o valor do dólar estiver atrasado, o governo será obrigado a fazer uma maxidesvalorização do real.
Segundo a Folha apurou, o câmbio fixo só será abandonado depois de pelo menos três meses, e ainda assim se houver inflação em real.
A criação do real virá também acompanhada de um controle rígido da emissão de moeda. No Banco Central, está sendo chamado de "arrocho monetário brutal".
Isso significa que os juros, hoje no patamar de 34% ao ano acima da inflação, permanecerão como estão ou subirão ainda mais. Além disso, o volume de dinheiro em poder da população terá de ser o menor possível.
Essa política, geralmente recessiva, é outro ponto comum em relação ao plano de estabilização argentino. Naquele país, chegou a gerar revoltas sociais no ano passado.

Texto Anterior: República Tcheca faz acordo com o Brasil; Sistel visita Embraer para futura compra; Prefeitos discutem tarifas em URV; Greve pára empresas na cidade de São Paulo
Próximo Texto: Economistas acham que plano corre risco
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.