São Paulo, terça-feira, 26 de abril de 1994
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Escritor dividiu cena argentina com Borges

MARCO CHIARETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Como Jorge Luís Borges (1899 - 1986), o outro grande escritor argentino deste século, Cortázar também começou cedo e como poeta. "Presencia", foi publicado sem muito destaque quando JC tinha 24 anos. Passaram 13 anos até "Bestiário" chegar às livrarias.
Cortázar preservou bastante sua produção inicial. Além de "Teoría del Túnel" e de "La Otra Orilla", inéditos até agora, o escritor escreveu um romance no mesmo período, "Divertimento", redigido em 1949, e editado só em 1986, postumamente.
JC começou cedo, e parou. Como Borges, que era de uma geração literária anterior à dele, saiu da poesia para dedicar-se ao conto. À diferença de Borges, foi até o romance, que parece ter sido desde o iníco a meta final de seu trabalho.
As semelhanças entre Borges e JC, os dois rotulados de "fantásticos", dizem respeito a algumas questões centrais da criação literária moderna: o experimentalismo, a crítica permanente do consagrado, a valorização do novo.
A partir daí, apesar das coincidências biográficas que dificultam um pouco sua identificação como "argentinos" –Borges nasceu em Buenos Aires, mas já criança foi morar na Suíça, Cortázar nasceu na Bégica, os dois morreram fora de seu país– a dupla caracterizou-se por suas diferenças. Nunca foram amigos. Falavam línguas diferentes, embora se expressassem em castelhano.
A mais evidente oposição refere-se à opção política. Cortázar era um esquerdista, crítico feroz dos regimes ditatoriais de direita, que elogiava publicamente as revoluções populares latino-americanas. Borges era um conservador híper-individualista, que dedicava o pouco tempo em que falava diretamente de questões contemporâneas a falar mal do comunismo.

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