São Paulo, terça-feira, 26 de abril de 1994 |
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África do Sul vota em meio a atentados terroristas CLÓVIS ROSSI
Um carro-bomba explodiu por volta de 9h (4h de Brasília), em Germiston, subúrbio branco 15 km a leste de Johannesburgo. Dez pessoas morreram. Por volta de 20h30, uma bomba num restaurante em subúrbio negro de Pretória, a capital administrativa do país, causou 2 mortes e feriu pelo menos 40 pessoas. Na véspera, no coração de Johannesburgo, a capital econômica, um carro-bomba causou a morte de 9 pessoas e ferimentos em 92. Em Germiston, os feridos são 35. Outras seis bombas explodiram entre a noite de domingo e a manhã de ontem, mas não causaram vítimas. O atentado de Germiston foi igualmente junto a um ponto de táxis. Mais exatamente, de }peruas do tipo Kombi que fazem serviço de lotação, condução habitual para os negros, em um país em que o transporte coletivo é precário. Os atentados de Germiston e de Randfontein indicam uma tentativa de intimidar os eleitores negros ao visar exatamente o seu principal meio de transporte. Mas o Cosatu (Congresso dos Sindicatos Sul-Africanos), em nota oficial, lembrou que a explosão de Germiston ocorreu em frente à sua sede no local. O Cosatu é o braço sindical do CNA (Congresso Nacional Africano, de Nelson Mandela), tido como virtual vencedor das eleições na África do Sul. Como a bomba de domingo explodiu no meio do caminho entre a sede nacional do CNA e a sua sede provincial de Johannesburgo, o alvo também pode ser o próprio Congresso Nacional Africano. Ou seja, o partido que chefiará o futuro governo de unidade nacional, como manda a Constituição. Como era inevitável, a sequência de atentados provocou reações enfáticas dos envolvidos no processo eleitoral. É claramente uma campanha de terror, disse Thabo Mbeki, presidente nacional do CNA. Já o atual presidente, F.W. de Klerk (Partido Nacional), culpou uma pequena facção de lunáticos pelos ataques. Ele acusa os autores dos atentados de fazerem uma verdadeira declaração de guerra contra o resto da sociedade. Também previsivelmente, sucederam-se os apelos para que a população vote em massa como forma de repúdio ao terrorismo. "Temos de provar, pela participação eleitoral, que as pessoas não se intimidaram", disse Mbeki, do CNA. A nota da Cosatu reforça essa posição: "A mais retumbante derrota para os que estão por trás desses atos ocorrerá se milhões de votantes comparecerem às urnas". Menos confiante na mera retórica, a polícia sul-africana anunciou ontem a intensificação das medidas de segurança. Agora, áreas vitais de todo o país serão cercadas, haverá bloqueios nas ruas e estradas e serão intensificadas as patrulhas. "Todos os homens disponíveis serão utilizados" disse o chefe de polícia, Johann van der Merwe. Mais ainda: Van der Merwe anuncia um prêmio de 1 milhão de rands (cerca de US$ 285 mil) para quem fornecer informações que levem à localização dos responsáveis pelos ataques. "É o maior prêmio oferecido na história do crime na África do Sul", diz o chefe de polícia. A reação dos interessados na eleição é natural. Como diz o presidente da Comissão Eleitoral Independente (a Justiça eleitoral sul-africana), Johann Kriegler, "perder vidas humanas é trágico, mas infinitamente mais trágico seria permitir que os terroristas tivessem sucesso em impedir as pessoas de votar". É exatamente isso que começa a ser colocado em jogo de hoje até quinta-feira, quando a votação termina e, com ela, o apartheid. O regime de segregação racial durou, a rigor, 352 anos. Cerca de 22 milhões de eleitores elegerão uma Assembléia Nacional de 400 membros, que, por sua vez, elegerá o novo presidente, no dia 6 de maio. O eleito deve ser Nelson Mandela, 75, líder do CNA. Farão parte do novo governo os partidos que obtiverem ao menos 5% dos votos. Texto Anterior: Do enviado especial Próximo Texto: CNA aceita referendo branco Índice |
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