São Paulo, terça-feira, 26 de abril de 1994
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CNA aceita referendo branco

CLÓVIS ROSSI
DO ENVIADO ESPECIAL

O virtual futuro presidente da África do Sul, Nelson Mandela, foi ontem o mais longe que pode para tentar tranquilizar a minoria branca.
Mandela admitiu a possibilidade de um referendo, após a eleição, sobre o Volkstaat (a pátria africâner, os brancos sul-africanos de origem holandesa ou francesa).
"Nós já dissemos que não aceitaremos um Volkstaat. Mas, depois da eleição, pode haver um referendo", disse o líder do CNA (Congresso Nacional Africano).
Em entrevista ao diário The Star, ele disse que gostaria de "ouvir o ponto de vista da comunidade em nome de quem essas pessoas dizem que estão falando".
As pessoas a que se refere o líder do CNA são, em essência, os membros da Frente da Liberdade, o único grupo da extrema direita branca que disputa a eleição.
O objetivo do grupo, segundo seu líder, general Constand Viljoen, é medir a força e a localização geográfica do apoio ao Volkstaat, pela votação de seu partido.
Se houver pelo menos 800 mil votos a favor da Frente da Liberdade, o general Viljoen acha que a discussão sobre o assunto se tornará viável.
Essa hipótese está de alguma forma contemplada em acordo assinado no último sábado entre o CNA, o atual governo e a Frente da Liberdade.
Este acordo prevê que a futura Constituição sul-africana dará "expressão a toda forma de autodeterminação que tenha apoio provado na comunidade".
Mas, para os extremistas brancos que resolveram ficar à margem do processo eleitoral, tudo isso ainda é muito pouco.
O AWB (Movimento de Resistência Africâner) anunciou que está montando "bunkers para proteção contra a suposta violência que virá dos negros após a eleição".
O general Viljoen, que já foi chefe das Forças de Defesa e distanciou-se da extrema direita, coincide com ela, no entanto, na previsão de violência.
Ele disse que a sucessão de atentados pode ser de fato da extrema direita, como quase todos supõem, mas pode ser antecipação da chamada "Operação Alvorada".
A extrema direita vem espalhando o boato de que o Partido Comunista, que faz parte do CNA, vai promover uma operação com esse nome, após o pleito.
A "Operação Alvorada" seria o início da tomada, pelos negros, de propriedades dos brancos.
A ex-mulher de Nelson Mandela e 11ª na lista de candidatos do CNA à Assembléia Nacional, Winnie, ajuda a pôr lenha na fogueira.
No domingo, ela disse que "Eugene Terre-Blanche será a primeira pessoa de quem vamos retomar as terras. Terre-Blanche é justamente o líder do AWB, grupo neonazista.
Consultado a respeito, o presidente do Congresso Nacional Africano, Thabo Mbeki procurou desconversar. "Não sei se ele tem fazendas", disse.
(CR)

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