São Paulo, terça-feira, 26 de abril de 1994
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Saramago conta a sua experiência em 1974

ESPECIAL PARA A FOLHA

O escritor José Saramago, 72, autor do "Memorial do Convento" e do "Evangelho segundo Jesus Cristo" era jornalista na época da Revolução dos Cravos.
Militante do Partido Comunista Português, Saramago foi vice-diretor do mais tradicional jornal do país, o "Diário de Notícias".
Ele é acusado de ter feito uma "limpeza política" de 23 jornalistas do jornal.
Mas também foi um dos que conseguiram que o novo governo não censurasse as informações sobre a guerra colonial –um meio de evitar a revolta das tropas.
Folha - Como o sr. viveu o 25 de abril?
José Saramago - Com alegria, como quase todos os portugueses. Na rua, que era onde melhor se respirava a liberdade.
Folha - Qual a sua lembrança mais forte?
Saramago - Nada que tivesse visto ou ouvido. Foi, simplesmente, ter pensado: "Estamos livres".
Folha - O senhor é acusado de ter demitido por motivo político 23 jornalistas do Diário de Notícias. O que ocorreu?
Saramago - Sou acusado de muita coisa. A história do"Diário de Notícias" já foi contada, os dados autênticos são conhecidos.
Isso a que o sr. chama de "saneamento político" não foi uma decisão exclusivamente minha. Assumo minha responsabilidade, assumam os outros a que lhes cabe.
Trinta jornalistas (reduzidos depois a 23) exigiram-me que publicasse um documento que ia contra o estatuto editorial do jornal.
Mas os jornalistas descontentes encontraram pela frente um corpo coerente de pessoas (tipógrafos, jornalistas, direção e administração) que fez gorar o golpe preparado no exterior.
Que eu seja uma das fontes desta história, de acordo, mas que não se volte sempre ao mesmo assunto, como se eu fosse o que de pior a revolução produziu.(JR)

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