São Paulo, terça-feira, 26 de abril de 1994
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Enfim idéias

O Brasil vive uma situação inédita. A manter-se o atual quadro eleitoral –ou seja, uma disputa entre Lula e Fernando Henrique Cardoso no segundo turno–, o país terá de optar, pela primeira vez em sua história, entre dois candidatos com origem na chamada esquerda.
Como era de se esperar, a opção entre Lula e FHC vem criando profundas divisões num segmento específico da sociedade: os intelectuais. E as razões são diversas. Em primeiro lugar, na história recente do Brasil, a maioria dos professores universitários abraçou os ideais de esquerda. Um dos candidatos, FHC, é justamente egresso das fileiras da academia. O outro, Lula, comanda um partido que desde o surgimento contou com a pesada adesão de muitos intelectuais.
De resto, cada qual tem, como é natural, seus gostos e preferências pessoais, determinadas também por questões de conjuntura como, por exemplo, a aliança PSDB-PFL e o equilíbrio de forças dentro do PT.
Mas essa divisão, em que pese todas as desavenças que possa estar provocando no meio universitário, vem produzindo um debate de alto nível com o qual a sociedade só tem a ganhar. De fato, a série de artigos de intelectuais que esta Folha vem publicando na seção Tendências/Debates e no caderno Mais! acerca da sucessão presidencial traz, como raras vezes se viu no país –sobretudo quando o tema é política–, argumentos e idéias em vez de insultos e insinuações.
É evidente que esse debate não chegou ainda nem chegará tão cedo às massas que realmente definem a eleição. Estas, infelizmente, acabarão se decidindo em grande parte em função da demagogia e do clientelismo, velhos vícios da política. Ainda assim, aqueles que acompanharem a discussão e sobre ela refletirem antes de definir seu voto certamente participarão da escolha do próximo presidente de forma mais consciente. É o primeiro passo para que o Brasil deixe de ser aquilo que hoje tanto se lamenta.

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