São Paulo, terça-feira, 26 de abril de 1994
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No reino da fantasia

ANTONIO CARLOS DE FARIA

RIO DE JANEIRO – A história das listas do jogo do bicho no Rio já rendeu tramas e argumentos para as mais fantasiosas imaginações literárias.
Alguns desses enredos sherloquianos já chegaram ao status de manchetes noticiosas, comprometendo a imagem de maturidade investigativa que a imprensa conquistou nestes últimos anos de depuração da vergonha nacional.
Há 15 dias, noticiou-se que os bicheiros haviam constituído verdadeiros tribunais para julgar e punir sumariamente seus traidores.
A informação partiu de um dos procuradores responsáveis pelas investigações do caso. Passadas duas semanas, não há nenhuma prova de que existam vítimas dessa reedição da inquisição.
Mesmo a existência desses informantes é questionada. O comando da PM nega que a corporação esteja protegendo testemunhas, simplesmente porque desconhece qualquer uma delas.
Agora se fala na articulação de uma caixinha para que acusados de receberem propinas de bicheiros possam financiar uma campanha contra a Procuradoria Geral de Justiça do Rio.
Novamente a origem das denúncias são os próprios procuradores e, num esforço para dar ares de veracidade à trama, entra em ação o jornalismo, digamos, "criativo".
Reuniões de políticos denunciados, que realmente discutiram estratégias de defesa diante das acusações, são costuradas com supostas ações de delegados relacionados na lista de Castor de Andrade.
O molho para essa salada de desinformação é a teoria conspiracionista. Molho que serve para todos os gostos, pois é usado tanto por Brizola quanto pelos procuradores.
O primeiro vocifera que tudo não passa de um complô para desestabilizar o governo pedetista e atingir sua imagem. Os segundos vêem uma tentativa de desmoralização do trabalho que fizeram até agora.
A histrionice brizolista já é velha conhecida e contribui para os índices de rejeição que seu líder enfrenta junto ao eleitorado. O exibicionismo inusitado dos procuradores é mais surpreendente, pois reflete contra os próprios, tornando desnecessárias as articulações de seus adversários.

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