São Paulo, terça-feira, 26 de abril de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

A aliança da galinha com a raposa

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA – O PT resolveu bater duro na aliança dos tucanos com o PFL. E aí não falta chumbo. O PSDB está jogando no lixo boa parte das juras de ética. O senador Fernando Henrique não se constrange, agora, em chamar esse debate de "politiquice". Mas a empulhação é encenada pelos dois principais partidos desta eleição: PSDB e PT.
Dirigentes do PSDB tentam vender o argumento de que a aliança com o PFL de Antônio Carlos Magalhães é um "detalhe". Duas suposições. Eles imaginam que: 1) todos os eleitores são bobos, 2) ACM é bobo.
Traduzindo: eles estão passando uma rasteira nos eleitores ou em ACM. Os tucanos enganarem ACM é tão provável como um galinha atacar uma raposa. Engraçado que eles estão se esforçando justamente em convencer jornalistas de que uma galinha é capaz de devorar uma raposa.
O PT não fica atrás. Eles tentam mostrar que a aliança com o PCdoB é insignificante. Numa entrevista à Folha, a economista Maria Conceição Tavares disse: "O PC do B é uma coisinha deste tamanho, uns pobres coitados". Esses "pobres coitados", como se sabe, apoiaram o massacre de estudantes na praça da Paz Celestial, na China. E também aderiram ao breve golpe para derrubar Gorbatchov.
A julgar pela argumentação da economista, o problema não é de princípio, mas de tamanho. Imaginem se um minúsculo partido neonazista se ligasse ao PSDB nesta sucessão. O pessoal do PT então diria mais ou menos o seguinte: "Olha pessoal, não vamos explorar essa aliança com os neonazistas porque, afinal, é um partido sem a menor importância". Risível.
Se quiserem fazer aliança, façam. Mas não imaginem que todos os eleitores são idiotas.
PS- Com o julgamento previsto para amanhã, o deputado Ricardo Fiuza entrou em contato com esta coluna, pedindo algo que considerei justo e sensato. Deseja que, durante a votação sobre se será ou não cassado, tenha amplo direito de defesa e que qualquer decisão seja baseada em fatos. Ele diz ter razões para temer uma decisão política, já que, além de líder do chamado Centrão, foi um dos ministros mais ativos do governo Collor. Democraticamente, faço o registro.

Texto Anterior: Fim do apartheid
Próximo Texto: No reino da fantasia
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.