São Paulo, quarta-feira, 27 de abril de 1994
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Descoberta merece o Nobel

ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
EM LONDRES

Os físicos ganharam uma partícula, mas perderam uma piada. Agora que, finalmente, o quark top foi detectado, eles não vão mais poder dizer que a física é uma ciência "topless".
A descoberta anunciada pelo Fermilab traz novo alento à chamada física de altas energias, um campo sempre visto com glamour, mas que andava combalido desde que o governo dos EUA suspendeu a construção do superacelerador de partículas SSC, que seria a maior máquina da história da física.
A nacionalidade "norte-americana" do top também deve colocar em ponto de bala a rivalidade entre os laboratórios norte-americanos e europeus. Roendo-se de raiva deve estar o italiano Carlo Rubbia, diretor do Centro Europeu de Energia Nuclear, na Suíça.
Rubbia ganhou o Prêmio Nobel de Física de 1984, pelo qual fez uma campanha política de sutileza paquidérmica. Ele não gosta de perder.
O nome "quark" foi criado pelo físico norte-americano Murray Gell-Mann (Nobel de Física em 1969) a partir de uma citação de James Joyce, sem significado aparente: "Three quarks for Muster Mark!"
O físico Stephen Hawking ensina em seu clássico "Uma Breve História do Tempo" que "quark" deveria ser pronunciado "quart". Não pegou.
Todos os experimentos para detecção de quarks são indiretos. É impossível detectar quarks isoladamente. Quanto mais se tenta separá-los, maior se torna a força que os une.
Imagine duas bolinhas presas por um elástico. Quanto maior a distância entre as duas, maior a força do elástico para juntá-las. No caso dos quarks, o elástico nunca quebra.
As teorias cosmológicas vigentes, porém, postulam que havia quarks livres nos primeiros infinitesimais instantes do universo. É o que os físicos chamam de "sopa primordial".
Os equipamentos de altas energias tentam, de alguma maneira, reproduzir essas condições iniciais do universo.
Às vezes dá certo, como agora, no caso do quark top. Nobel para eles.

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