São Paulo, quarta-feira, 27 de abril de 1994
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Desescândalo

JANIO DE FREITAS

A Procuradoria de Justiça do Rio passa da glória efêmera de acusadora à situação de ver sucessivamente repelida, na avaliação dos órgãos oficialmente autorizados, a validade de suas pretensas provas. Depois da Procuradoria-Geral da República e da Corregedoria da Câmara, agora é o relator do Órgão Especial do Tribunal de Justiça, desembargador Gama Malcher, que declara a inépcia das pretensas provas apresentadas pelo promotor Antônio Carlos Biscaia.
Para agravar a situação de Biscaia, ontem era esperado um repentino pedido de licença do seu principal aliado, o presidente do tribunal, Antonio Carlos Amorim –o da inexplicada denúncia feita na Itália contra "um partido brasileiro que recebe ajuda da máfia e do narcotráfico".
Ao comparecer, sem convite ou convocação, para fazer a defesa das suas pretensas provas na sessão do Órgão Especial, anteontem, Biscaia fez uma tentativa de reverter a reação inicial do corpo de desembargadores. Desde o início a maioria deles recebeu muito mal o lançamento público dos nomes de magistrados como corrompidos pelo jogo do bicho, sem que houvesse sequer investigações, quanto mais provas. Em especial, a inclusão do juiz Franklin Belfort Netto, magistrado de alta reputação, soou como atitude de precipitação inaceitável.
A intervenção de Biscaia não desfez as más impressões, nem ao menos evitou uma derrota constrangedora: teve que anunciar a realização de perícia nos documentos, para atribuir-se uma decisão que, na verdade, foi do desembargador-relator. Biscaia sempre recusara a perícia: "Não é necessária. Eu tenho a convicção da autenticidade e isso basta". Nem a perícia basta. São necessárias investigações, também. E sérias.
Na sequência de afirmações fantasiosas que tem distribuído, o principal auxiliar de Biscaia, Antonio José Campos Moreira, divulgou que novas provas seriam mandadas ao procurador-geral da República, Aristides Junqueira, para reformar seu parecer de que os documentos não contêm "sequer indícios". Não existem, até agora, novos dados valiosos, ainda que o fossem apenas pela ótica simplista do grupo de Biscaia. O máximo que poderiam mandar são registros contábeis irrelevantes, encontrados em um ou outro disquete. A situação da Procuradoria de Justiça não é difícil, portanto, só pelo que fez, mas também pelo que não consegue fazer para evitar que sua breve glória se transforme em longas reversões.
Em sentido mais amplo, volta-se ao problema inicial deste caso, que é o de saber o que, de fato, o originou. A historinha da denúncia levada à juiza Denise Frossard não resiste à mais superficial apreciação. E depois de tantos fatos estranhos, nos quais se encontra a ação do que outrora foi chamado de "grande imprensa carioca", está a PM descobrindo que o tenente-coronel Brum, peça fundamental no desenrolar do escândalo, tinha, ou tem, ligações com o próprio Castor de Andrade: chegou a ser diretor de ala da Mocidade Independente, a escola de samba patrocinada pelo bicheiro.

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