São Paulo, quarta-feira, 27 de abril de 1994
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Palmeiras é melhor do que o São Paulo

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

O futebol brasileiro é o único emprrendimento comercial do mundo moderno que ainda não descobriu o poder do marketing. Ao contrário: espanca-o a cada momento. Pegue-se o caso de Palmeiras e São Paulo, os dois mais ilustres elencos do nosso futebol, que na última temporada dividiram todos os títulos que foram colocados em jogo, aqui e no estrangeiro.
Ambos compartilham a liderança do Campeonato Paulista (o Palmeiras é líder por pontos ganhos e o tricolor por pontos perdidos), e, na Libertadores, são as nossas duas mais afiadas armas: o São Paulo busca o tri inédito para clubes brasileiros; o Palmeiras, para coroar a fase Parmalat, o passaporte para Tóquio.
Pois bem: em menos de cinco dias, jogam entre si todas as esperanças. Sim, porque se calhar de um deles vencer hoje, pela Libertadores, e domingo, pelo Paulista, adeus ocoló! Tanto a Libertadores quanto o torneio doméstico estarão enterrados para o outro. Claro que não, matematicamente. Mas o futebol não se faz de números, mas, sobretudo, de emoções.
Sai de campo o marketing e entram os dois times que se defrontarão esta noite. Antes de mais nada, é bom deixar claro que, time por time, jogador por jogador, o Palmeiras é melhor do que o São Paulo. Não muito melhor, mas melhor, sobretudo no ataque, e os números comprovam isso. O tricolor vence num quesito importante que são as laterais, hoje setor vital de qualquer equipe moderna. Dispõe de quatro opções de alto nível: Vítor, Cafu, André e Leonardo, sem contar Ronaldo Luís. Já o Palmeiras só pode se orgulhar de Roberto Carlos, um bólide pela esquerda, pois Mazinho, que seria outra excepcional alternativa, de um lado ou de outro, nega-se a voltar às suas origens.
Taticamente, embora ambos no papel obedeçam ao 4-4-2, na prática, o Palmeiras é mais ortodoxo, enquanto o tricolor é mais fluído. Isso, pelas características dos jogadores de cada time. Enquanto o Palestra se arma com um volante (César Sampaio) mais liberado para o apoio, um meia-armador clássico (Mazinho), um coadjuvante (Zinho) e um ponta-de-lança muito peculiar, como Rincón, e ataca com um centroavante típico, pião, lá na frente (Evair), apoiado por um meia-ponta tipo Edmundo ou Edílson, o tricolor tem um perfil muito particular. No ataque, dois velocistas (Euller e Muller), e, no meio-campo, laterais, meias e médios se confundem num caos organizadíssimo (não deixem, por favor, Telê saber disso, pois caos organizado é coisa de Deus, ele é capaz de acreditar).
Aliás, por falar em Telê, ele não quis adiantar a escalação do time. Por várias razões. A primeira delas é que Axel começou a acertar o pé, o que coloca em xeque a volta de Vítor para a lateral, com a inevitável passagem de Cafu para o meio-campo. Qual o problema, Telê? Basta deixar Axel com a 5, Cafu com a 8 e Leonardo com a 10. Isso é meio-campo pra disputar Copa do Mundo.
A outra dúvida gira em torno de Palhinha, Juninho e Jamelli. A verdade é que Jamelli deu a agressividade necessária, sem perder a criatividade, no meio-campo, quando entrou no time titular desde o início. Outra verdade: Juninho produz muito mais quando entra com a bola correndo. Terceira verdade: Palhinha vem mal, desde a Copa América, quando injustamente foi boicotado por Parreira. Isso deve ter mexido com o ânimo do jogador. Mas, de qualquer forma, é o mais completo entre os três e o mais experiente. Logo, sua escalação se impõe naturalmente. Se reagir mal, troca, Telê.
Quanto ao Palestra, Luxemburgo só tem de se inspirar em Serginho Chulapa, e tentar transmitir ao seu timaço uma única idéia: quem ganhar esses dois jogos, ganha dois campeonatos de uma só vez.

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