São Paulo, quarta-feira, 27 de abril de 1994
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MIS exibe filme coletivo sobre Canudos

JOSÉ GERALDO COUTO
DA REPORTAGEM LOCAL

Alemães mostram filme sobre Canudos
MIS exibe amanhã trechos de longa em episódios realizado por diretores brasileiros com produção alemã
Está praticamente pronto o filme de episódios "Os Sete Sacramentos de Canudos", realizado por sete diretores brasileiros, com produção alemã. O Museu da Imagem e do Som (MIS) de São Paulo exibe amanhã às 20h, em vídeo, trechos de cada um dos episódios.
Os alemães Peter Przygoda, idealizador do filme, e Uli Mõller, produtor independente que capitaneou o projeto, estarão presentes à exibição. Ambos falaram com exclusividade à Folha sobre o filme.
"Os Sete Sacramentos de Canudos" é uma produção internacional financiada em sua maior parte pela segunda emissora de TV estatal alemã, a ZDF.
O restante dos recursos veio da emissora alemã Arte, institutos de cinema alemães e Jorge Neves Produções (Portugal). Segundo o produtor Mõller, o orçamento inicial, de US$ 340 mil (custo de uma produção brasileira média), já foi estourado.
O filme terá sua finalização –ou "polimento técnico", na expressão de Przygoda– realizada na Alemanha. Essa fase inclui a mixagem, trucagens e a colocação de letreiros.
A exibição na TV alemã está prevista para outubro. Depois disso, o filme deverá ser distribuído internacionalmente para cinema e televisão.
"Quando passávamos pelo sertão da Bahia, Braulio Tavares Neto, co-diretor do documentário, disse que tinha ocorrido naquela região uma das últimas guerras camponesas. Depois, li 'A Guerra do Fim do Mundo', de Vargas Llosa, e decidi fazer o filme", diz.
Segundo Przygoda, sua idéia inicial era dirigir, ele próprio, o filme. "Depois percebi que seria melhor passá-lo para os próprios brasileiros, para que pudessem se entender com a sua história."
Em seguida, Przygoda –que é casado com uma brasileira e divide seu tempo entre a Alemanha e Salvador (BA)– trouxe para o projeto o produtor Mõller e a ZDF.
A partir de 21 roteiros de diretores brasileiros, Przygoda, Mõller e a ZDF escolheram os sete que, segundo o montador, apresentavam "maior radicalidade".
A idéia do título foi do gaúcho Jorge Furtado, diretor de um dos episódios selecionados, "A Extrema-Unção", sobre um canhão gigantesco mandado pelo governo federal para sufocar a rebelião de Canudos (leia texto ao lado).
Os outros diretores que participam do filme são Pola Ribeiro (episódio "A Crisma"), Ralf Tambke ("O Matrimônio"), Sandra Werneck ("A Eucaristia"), Luis Alberto Pereira ("A Ordenação"), Joel de Almeida ("A Penitência") e a dupla Otto Guerra e Adalgiza Luz (com a animação "O Batismo").
O único desses cineastas que já realizou longas-metragens é Luiz Alberto Pereira, diretor de "Jânio a 24 Quadros" e "Efeito Ilha" (em finalização). Os outros são respeitados curta-metragistas.
Os segmentos são totalmente independentes entre si. O tema geral –a rebelião de Canudos, ocorrida há quase cem anos– foi abordado das maneiras mais diversas.
Vários diretores procuraram aproximar a temática de Canudos aos dias atuais.
Em "A Eucaristia", por exemplo, Sandra Werneck associa a figura do líder messiânico Antonio Conselheiro ao tráfico de drogas nas favelas de hoje.
Já Luiz Alberto Pereira, em "A Ordenação", imagina o encontro entre Conselheiro e o guerrilheiro Carlos Lamarca.
Outros episódios, como "A Crisma" e "A Penitência", são documentários realizados na região de Canudos.
Depois de acompanhar a finalização de "Os Sete Sacramentos de Canudos", Peter Przygoda junta-se à equipe de Wim Wenders que está realizando em Portugal o novo filme do cineasta alemão.

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